segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Feira livre, Lugar de Gente Feliz


Quem ainda não conheceu a feira livre, deixou de experimentar um dos grandes prazeres desta vida.
Imagine um lugar onde as pessoas estão sempre sorrindo, onde as culturas se misturam, onde os aromas provocam sentidos e desejos dos mais variados, lugar onde o povo brasileiro é o que é, gente simples e amiga, independente da classe social.
As feiras de Marília se caracterizaram, no passado, pela presença marcante da comunidade japonesa, os produtores rurais que colhiam frutas e verduras logo nas primeiras horas da madrugada e arrumavam as bancas para receber a freguesia aos primeiros raios do sol. No começo, o dialeto ainda difícil para essa gente que chegou aqui depois de desembarcar do Kassatu Maru, no Porto de Santos, e viajar pela rodovia rumo ao sertão paulistano.
Mas lá estavam também os caboclos, os italianos, os sírios libaneses, os espanhóis e, mais recentemente, estão chegando os chineses com suas Rosas do Deserto, as pedras da sorte e os bonsais.
Feira tem cheiro de pastel frito na hora e garapa com gostinho de limão, tem cheiro de café torrado e moído na hora, do Tião marketeiro, que inspirou a Marca Café do Feirante, tem cheiro de melão fresco, que enche a casa do aroma da roça e ainda embeleza a fruteira na cozinha, tem sanfona de 8 baixos, tocada na “rua do rolo” pelas mãos de artistas anônimos, tem galinha caipira esperando dona de casa antiga que ainda sabe puxar o pescoço do frango para fazer a cabidela, tem ovo caipira, mais forte que o de granja, e o queijo fresco feito ontem mesmo.
Quem resiste a um maço de couve-manteiga, de tão verde quase roxo, mais parecendo um leque de abanar donzelas e senhouras no tempo do império? Como evitar levar aquela couve-flor rodeada por tomatinhos vermelhos, que estouram na boca quando apertados entre os dentes?
A tira de alho e de cebola em tranças vai ficar pendurada na porta e, quando a chuva apontar a cara, lá de onde o vento sopra, o cheiro dela vai invadir a cozinha e aguçar o apetite.
Mas o ditado é sábio: moça bonita não paga, mas também não leva. Tinha o baiano fumeiro que nos deixou há pouco tempo, vendedor de fumo em rolo, costume antigo que ainda reina entre os apreciadores do cigarro de palha, tinha tapioca da preta que a gente não sabe por onde anda.
Mas é legal saber que a feira está resgatando o costume de ter horta no fundo de casa, tudo porque inventaram de vender mudas prontas de tudo quanto é coisa boa e saudável.
A feira é tudo de bom, diria Dona Maria, a comadre que mais limpou sardinhas e peixes nesta vida. Boa de prosa e boa de serviço, sempre acompanhada da Neide, a filha do coração.
Mas se a gente for contar tudo da feira aqui... vai faltar papel, tamanha é a variedade de assuntos e a felicidade de quem sabe fazer o domingo da gente sempre um dia especial.
Mas deixa eu ir andando, porque o doce de goiaba tá no fogo e quase no ponto. Se descuidar, o fundo pega.
A gente se vê por lá.
Ivan Evangelista Jr
Retratista, Chefe de Gabinete do Univem, Membro da Comissão de Registros
Históricos de Marília e apaixonado pela feira. Fotoclube Marília

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