domingo, 18 de dezembro de 2011

No bailado das águas do tempo

Fonte da Praça São Bento 

O lago no Paço Municipal, hoje um jardim no lugar 

Fonte iluminada e fachada da prefeitura municipal

No frescor das praças iluminadas a cidade foi se estruturando

O artigo de hoje foi inspirado por uma publicação feita em 15 dezembro de 1959, no Jornal Correio de Marília, hoje Diário de Marília, pelo jornalista José Arnaldo Bravos, na sua coluna “De Antena e Binóculo”. Os escritos dele estão circulando pela Net através da iniciativa de Sueli Amaral, sua filha, casada com o também jornalista Cláudio Amaral, ambos moradores em Santos atualmente, mas que são apaixonados pelo bairro da Aclimação em São Paulo e por Marília, é claro. Eles criaram o blog que tem o mesmo nome da tradicional e importante coluna da época e nos brindam com o envio dos artigos.
Na data acima mencionada, José Arnaldo registrava que o “footing” da cidade estava se desviando e repartindo público com outro ponto atrativo. A causa de tudo foi a inauguração da fonte iluminada no novo Paço Municipal.
Para melhor entender o contexto, é preciso lembrar que, naquela época, o encontro das pessoas e muitas histórias de namoros começavam com a prática de ficar andando pelas praças e calçadas, em duplas ou em grupos, ou circulando pelos principais pontos da Avenida Sampaio Vidal.
Hoje, pode parecer loucura, mas as pessoas literalmente andavam em círculo, obedecendo até mesmo um sentido de mão de direção, no qual outros iam se achegando e entrando na roda. As calçadas, da esquerda e da direita, na principal via da cidade, eram tomadas por jovens, por casais e por famílias com crianças, que interagiam de forma espontânea e colocavam o bate papo em dia.
As moças, sempre muito bem arrumadas, perfumadas e recatadas, arriscavam, no máximo, um olhar de canto de olho em direção a um pretendente. Um sinal de permissão para uma abordagem mais próxima era deixar cair um lenço das mãos, que de imediato seria recolhido pelo cavalheiro, abrindo as portas do diálogo.
Os rapazes, de gravata e terno bem alinhados, sapatos impecavelmente engraxados e lenço branco no bolso do paletó. Para os mais ousados, um topete à moda Elvis Presley, feito com o auxílio da Brilhantina ou da Glostora; nos bolsos, os acessórios de época: pente Flamengo, espelhinho de bolso, com gravura colorida de uma mulher sensual no verso, vendido nas melhores pharmácias e drogarias, cortador de unhas americano, da marca Trim, maço de cigarros (Paquetá, Luxor, Kent, Continental, LM, Hollywood, Minister) e o isqueiro Zippo, à prova de vento, sonho de consumo de muitas gerações.
Estes eventos aconteciam nos quarteirões limitados pelas ruas Campos Sales (que tinha na esquina o Cine Marília), até a rua Nove de Julho, contemplando vários pontos comerciais que reuniam as pessoas para um bom jantar ou mesmo apreciar um sorvete banana split, um frapê, uma coalhada batida com canela e os doces finos de vitrine, servidos em pratos de porcelana e talheres de alpaca, acompanhados de chá ou café.
Os aperitivos podiam ser um Dry Martini, um coquetel Cuba Libre, ou algo mais forte, como o rum Merino, dicas que os filmes estrangeiros traziam através dos seus imponentes e admirados personagens. Para os dias de bolsos mais escassos, valia a inspiração à moda brasileira mesmo: caiam bem o chuvisco - pinga com guaraná gelado, a Maria Mole - pinga com groselha, ou o tradicional rabo de galo, seguido de um cravo discreto, escondido no canto da boca, para aliviar o hálito.
Na esquina da Sampaio Vidal com a Rio Branco, tendo como fundo de cena o prédio da Câmara Municipal, o balé das águas iluminadas por potentes holofotes prendeu a atenção dos motoristas e passageiros e gerou novos problemas no trânsito. Tanto que foi motivo de registro na crônica publicada, onde o autor, fazendo-se porta-voz dos seus leitores, pedia providências das autoridades constituídas no sentido de uma melhor organização na circulação de carros e caminhões, solicitando mais respeito aos pedestres e sugerindo a interdição das vias aos domingos; afinal, havia ali, de um lado da praça, uma fonte luminosa e, do outro lado, a banda municipal executando suas marchinhas e retretas.
Lembramos também de outra fonte luminosa instalada no Jardim da Igreja São Bento, bem no meio do lago, com o diferencial de que tocava músicas nos finais de semana. Coisa de gente feliz, programa de bom gosto popular, para juntar famílias e casais de namorados, onde também as crianças despreocupadas corriam soltas, brincando de pega-pega ou esconde-esconde por entre os jardins e bancos.
Quanto mais alto o tom das notas musicais, mais alto o esguicho se lançava. Dava a impressão de que as gotas, enciumadas dos enamorados, queriam tocar o brilho das estrelas, enquanto olhares lúgubres se entrelaçavam e deitavam juras de amor.
O vento soprava e se misturava com o frescor das águas e dos aromas da pipoca caipira, feita na hora, irresistível até hoje, do amendoim torradinho, do quebra queixo, da paçoca, da cocada, da raspadinha de gelo, com sabor groselha, menta ou limão e dos picolés, para refrescar as noites mais quentes.
Ainda criança, eu ficava intrigado em saber se, na fonte da São Bento, tinha um homem que ficava dentro daquele cone de vidros coloridos, no centro do lago artificial... e como é que ele chegava até lá para colocar as músicas para tocar, sem molhar os pés. Até hoje ninguém me explicou isso.
Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado também no Jornal Diário de Marília, edição 18/12






domingo, 11 de dezembro de 2011

Apicultura fixa o homem na terra

Apicultores instalam novas colméias em área rural



Fazendo a manutenção de colméia - uso do fumegador
 
Reunião da AMAR, na Secretaria da Agricultura

Amar-Marília é uma alternativa para a produção no campo
Na apicultura, o mel para consumo alimentar é considerado como a parte mais simples da cadeia produtiva. Ou seja, não é o produto mais nobre ou o mais valorizado economicamente. Acima dele, estão o própolis, considerado excelente medicamento ou preventivo para algumas enfermidades, o pólen, a geleia real e a coleta do veneno da abelha para fins de produção de vacinas e medicamentos. Mas, neste pouco tempo em que estou participando dos encontros da Amar (Associação dos Apicultores de Marília e Região), noto que a essência do trabalho associativista desenvolvido aqui - desde a sua fundação, no ano de 2006 - é substituir as questões econômicas e do empreendedorismo pela preocupação com a sustentabilidade das ações. Nada mais saudável e em plena sintonia com o momento delicado do planeta, que nos dá sinais constantes de esgotamento.

O apicultor, por natureza de ofício e por paixão, é um preservacionista de plantão e está sempre antenado em manter o equilíbrio dos recursos naturais que utiliza nas suas atividades.
Para ter uma boa produtividade, é preciso que o pasto apícola seja de primeira qualidade e aqui temos os vales e Itambés com variedades atrativas, entre elas, o Assa-peixe, o Capixingui, Sangra D’Água, Ingá e o Angico, regiões estas onde não ocorre a aplicação de agrotóxicos. A conservação e a proteção do conjunto de plantas de uma determinada região, que são fontes de coleta de matéria-prima para as abelhas, são fatores fundamentais neste contexto. Vale o mesmo para as nascentes, fonte de água limpa para as colônias produtivas e de renovação de toda a vegetação; a água é fonte de vida para os homens e para os animais.
Próximas dos apiários, sempre vamos encontrar áreas em que o plantio de mudas de espécies melíferas foi incentivado por grupos preservacionistas ou contaram com a iniciativa de apicultores; quem ganha com isso somos todos nós. Se temos mais abelhas na região, haverá maior polinização, teremos mais frutas e maior reprodução de espécies nativas que promovem o equilíbrio do meio ambiente.
Na reunião da Amar, realizada no domingo, dia 4 de dezembro de 2011, tivemos uma visão geral dos companheiros que compartilham esta experiência fantástica de manter a atividade familiar da apicultura em nossa região, bem como nas cidades de Pompeia, Tupã, Vera Cruz, Echaporã, Parapuã, Bastos, Garça.
São pessoas simples, gente que tem paixão pela natureza e que investe no aprimoramento das técnicas da apicultura sustentável. O resultado econômico faz parte, sim, não há dúvidas, mas antes de tudo estão o companheirismo, a troca de informações, o prazer dos encontros e de compartilhar uma atividade que reúne pessoas de alto astral e que pensam sustentabilidade.
A Amar, sob a presidência de Antônio Fernando Scalco, está prestes a instalar a Casa do Mel, resultado de muito trabalho de pioneiros que sempre acreditaram nesta ideia de ter um centro de coleta, armazenamento, envasamento e distribuição dos produtos gerados pela apicultura. Mas, antes de tudo, é preciso conduzir os associados para um padrão de procedimentos e técnicas de manuseio que garantam a qualidade no final da linha de produção, caseira e profissional, trabalho que vem sendo realizado com o apoio do Sebrae e da Secretaria da Agricultura da Prefeitura Municipal de Marília.
Este é o atual desafio: trazer os produtores informais para as inúmeras vantagens do mercado formal, apresentando produtos que tenham boa aceitação e que sejam “sifados”, expressão utilizada para indicar que o mel tem origem de procedência e registro no SIF (Serviço de Inspeção Federal), atendendo aos requisitos sanitários da produção e comercialização da alimentação saudável. A associação está forte e bem conduzida por seus diretores. Os caminhos estão delineados e, em breve, teremos boas novidades.
Não há dúvidas de que a apicultura é boa alternativa para manter o homem na terra, com benefícios diretos ao meio ambiente, ao desenvolvimento sócio-econômico da região e ao aumento da renda familiar. A criação de enxames caseiros faz parte da história de muitas famílias, principalmente quando as casas tinham quintais grandes, com plantio de frutas e hortaliças que abasteciam as mesas.
Conta-nos, também, o amigo e agricultor Paulino Munhoz Placa que, durante o período pós-guerra, saía em lombo de burro do Distrito de Avencas em direção à estrada para Pompeia. Lá, havia uma venda que comercializava açúcar mascavo no mercado paralelo. Foi neste período que a produção caseira do mel minimizou os efeitos da escassez de alimentos na mesa do caboclo brasileiro.
Ivan Evangelista Jr
É membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Artigo publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 11/12/11







segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Quem nunca jogou uma pelada, não sabe o que perdeu


Todos eram grandes nas suas qualidades e no companheirismo

Ao descer a rua Antonio Prado, no bairro São Miguel, logo após a passagem pelo cruzamento da linha férrea, do lado esquerdo podemos observar um grande posto de combustíveis. O que pouca gente sabe é que, por muitos anos, o terreno onde foi construído o posto era conhecido como “O campinho do Pioneiro”.
Foi ali o palco de grandes partidas de futebol, conhecidas como peladas. Geralmente, um time jogava com camisa e o outro sem camisa, para diferenciar as equipes. O batismo do campo surgiu em razão do antigo Bazar Pioneiro, localizado bem no meio do quarteirão, um dos primeiros a se instalar na região.
Para formar os times, o processo era bem interessante. Normalmente, dois líderes, bons de bola, disputavam no par ou ímpar para saber quem começava a escolher primeiro. Vinha moleque de tudo quanto é canto, que formavam um grande grupo enquanto esperavam a formação do time.
“Fulano é meu...”, dizia um. “Beltrano é meu...”, retrucava o outro. E, assim, os escolhidos iam formando uma fila atrás do grande líder.
Num primeiro momento, os bons de bola eram apontados e disputados, depois os mais ou menos e em seguida a “rapa”, como eram chamados aqueles que geralmente entravam para completar o quadro e ainda ficavam incumbidos de buscar a bola quando arremessada para fora do campo e no meio do mato. Mesmo assim, antes do início do jogo, ainda se fazia uma avaliação para ver se um time não estava mais forte que o outro. Se isso fosse constatado, seguia nova etapa de negociação: “eu te dou este e você me dá aquele”... eram os craques sendo disputados a peso de ouro ou os grandões, que pegavam forte na defesa.
Não havia uniforme e os pés descalços anunciavam que, mais cedo ou mais tarde, uma tampa do dedão do pé ia ficar enroscada numa pedra escondida pela areia. Os chinelos de dedo eram amontoados nas duas extremidades do campo e improvisavam as traves do gol. O campo era delimitado por pedaços de paus ou pedras, mais ou menos alinhados nas laterais e unidos por um risco no chão, feito com os calcanhares mesmo, sempre imundos e rachados.
Se alguém chegasse calçado com um Conga, daqueles azuis, com a biqueira branca, imediatamente era intimado a tirar. Aliás, ter um Conga nesta época era sinal de que o Natal ou o presente de aniversário foi gordo; depois viria o Kichute, todo preto,com biqueira reforçada e sola com cravos, artigo de luxo, mas que dava um chulé que nem banho com Lysoform tirava a catinga dos pés.
Os times vinham de uma formação básica que começava na vila onde os garotos moravam. Quando era marcado jogo de vila contra vila, era fato consumado que o couro ia comer na partida e o time visitante tinha que tomar todos os cuidados para sair com o mínimo de prejuízo e de machucados.
Toda partida ia bem até acontecer uma falta mais dura ou uma cochilada do juiz, que deixou de apitar um lance que poderia ser ‘aquele’, o decisivo do jogo, mas perdeu a jogada e deu prejuízo. Invasão de campo, xingamentos, ameaças e, não raro, uns cascudos de raspão no árbitro para deixar bem claro que ele estava indo contra os desejos do mandante, neste caso, o time que supostamente era o titular daquele campinho.
Outra regra era bem clara - apanha porque ganhou do time da casa, ou apanha porque perdeu, ou porque, mesmo perdendo, teve jogador atrevido que deu um ou dois dribles mais ousados no ídolo do time ganhador. A saída era levar torcida maior para tentar intimidar o adversário... às vezes funcionava.
Jorginho Putinatti
Foi neste campinho improvisado e também num outro, que ficava na rua Coelho Neto, hoje sede da indústria Marcon, que nasceu um grande ídolo do futebol brasileiro e do Palmeiras, o Jorginho Putinatti. Já naquela época, ele era fã do time do Palmeiras e sabia a escalação decorada e salteada de todas as partidas. Cresceu junto de nós, dizendo que iria jogar no time dos seus sonhos, gravou suas palavras no universo e realizou seu sonho. É um craque, na bola e na vida, onde fez escola para outros meninos.
Dos nomes desta turma do campinho da Coelho Neto, voltam fácil à mente: Jorginho; Vartão, nosso Pelé, hoje policial militar aposentado e empresário, filho do seu Valdomiro, maquinista da Fepasa; os irmãos Zé Arnaldo e Júlio Esteves, filhos do seu Francisco da Antárctica e da Dona Olinda, costureira; do Betão, filho da Dona Genilda, também mãe do Gilsão, bombeiro aposentado; do Bilão; do Zé Luiz padeiro; do Miltão e mais um monte de amigos dos quais tenho muitas saudades. Os tratamentos eram quase todos assim, no superlativo mesmo, do mesmo tamanho da amizade e do respeito que havia entre o grupo. Todos eram grandes nas suas qualidades e no companheirismo e valia a regra do “mexeu com um mexeu com todos”.
Hoje, os campinhos continuam espalhados pelos bairros onde vemos as novas gerações jogando até o sol cair no horizonte, com as mesmas regras. São oásis de cultura e de amizade, neste universo moderno de vídeo games, de celulares, de computadores e de fones de ouvido, que isolam garotos e garotas em sua mais tenra idade, ainda que conectados virtualmente.
Quem nunca jogou uma pelada em campinho de terra batida perdeu uma grande oportunidade de descobrir o verdadeiro futebol e de ouvir mães e tias gritando: “menino, vem jantar que tá na mesa... larga essa bola menino... o sol já caiu e você ainda tá aí sem tomar banho!”

Ivan Evangelista Jr
É membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 04/12/11



domingo, 20 de novembro de 2011

Os monumentos contam nossa história



Mesmo instalados em locais diversos à origem, mantêm viva a memória

O leitor já percebeu que, quando viajamos para outras cidades, nossos sentidos e a atenção ficam mais aguçados. Já percebeu que captamos muito mais informações do que costumeiramente o fazemos em nossa própria cidade? A explicação está no fato de que o novo atrai.
O novo desperta os sentidos. E isso nos deixa mais vigilantes, mais interessados em identificar a fonte de uma nova informação sensorial, seja ela olfativa, visual ou auditiva, fazendo o registro imediato.
Passar nas proximidades das indústrias Nestlé, da Dori, ou da Marilan, e sentir o aroma sempre agradável que os fornos exalam, de biscoito de coco ou de chocolate, de amendoim torrado ou de gominha colorida, por exemplo, para nós, marilienses, é algo comum. Ou seja, sentimos o aroma, mas o cérebro já tem mapeada a informação da origem e não damos tanta importância ao fato. Já com o visitante a reação é diferente.
Nas viagens, acontece o mesmo com os monumentos instalados em praças públicas. Ao passar na mineira Três Corações, a estátua em homenagem a Pelé chama a nossa atenção; na entrada da cidade de São Manuel, homenagem aos sertanejos Tonico e Tinoco; na cidade de Assis, lá no alto da avenida, uma bela escultura de São Francisco de Assis, feita de sucata reciclada.
Em Marília, tenho como referência neste assunto o monumento “Aos Pioneiros”, instalado na rotatória que fica entre a Avenida da Saudade e o acesso ao campus universitário. Mas, o que pouca gente sabe é que este monumento já foi mudado de lugar por várias vezes... e ainda continua em local errado. A explicação do fato está na obra “Marília, Marcos e Monumentos”, autoria do saudoso historiador Paulo Corrêa de Lara, primeira edição no ano de 1998.
O autor é o escultor Luiz Morrone, conforme descrito no livro: “O monumento que representa em tamanho natural, um casal de lavradores, ele com a mão em pala vislumbrando o horizonte mariliense, com um filho agarrado à sua perna esquerda, e ela carregando ao colo outro filho pequenino. Colocado sob um pedestal de dois metros de altura, contém uma placa de bronze com os dizeres: 'Aos pioneiros - Rasgando as matas virgens, abrindo clareiras e criando searas, os pioneiros são dignos de respeito e por nos legarem esta usina de progresso, nesta homenagem vimos perpetuar a justa gratidão aos marilienses. Theobaldo de Oliveira Lyrio. Prefeito Municipal'.
Na outra face lateral, outra placa de bronze, com os dizeres: ‘Ao Fundador, neste local, para ter a posse da terra, em 1915, Cincinato Braga, fez plantar dez mil pés de café. Em 1923, Antonio Pereira da Silva, desbravador de sertões, adquiriu e loteou, nas cabeceiras do Pombo, uma gleba de 50 alqueires. Assim nasceu o Alto Cafezal, hoje Marília’”. E continua: "Uma das faces laterais contém uma placa de bronze, em alto relevo, representando a Agricultura, e, na outra face lateral, outra placa também de bronze representando, em alto relevo, um lavrador guiando um arado, puxado por uma junta de bois.
O Monumento ‘Aos Pioneiros’ foi inaugurado pelo Prefeito Octávio Barreto Prado em 4 de abril de 1962, por ocasião das comemorações do aniversário de Marília. Fizeram-se presentes àquela solenidade o então presidente da República João Baptista Goulart (Jango Goulart), o governador do Estado Adhemar de Barros e outras autoridades, inclusive o prof. Balthazar de Godoy Moreira, antigo diretor do 1º Grupo Escolar de Marília e inspetor aposentado, autor do primeiro livro de história de Marília, ‘Marília Cidade Nova e Bonita’".
Voltando à questão da localização correta do monumento, o autor Paulo Lara sempre defendeu que o mesmo deveria estar nas proximidades da Santa Casa de Misericórdia de Marília, visto que a picada de mata, que abriu as terras para as primeiras propriedades rurais, foi obra do Coronel Francisco Ferraz de Sales, num total de 147 km, saindo de Presidente Pena, hoje Cafelândia, até Platina. Este mesmo picadão tornou-se estrada, permitindo a entrada nas terras do Espigão “Peixe Feio”, os dois rios de maior referência geográfica para a nossa região.
O leitor deve notar que, além desta informação muito relevante, mais acima, já mencionamos os dizeres de uma das placas sobre o registro do fato de Cincinato Braga, plantar “neste local”, dez mil pés de café, isto no ano de 1915. Ou seja, não o fez na região onde hoje está o cemitério, e sim na região da Santa Casa, tanto que a rua Cincinatina é o limite entre a propriedade da Fazenda Cascata com o bairro Maria Isabel.
Salvo engano, o monumento “Aos Pioneiros” já esteve plantado na rotatória localizada na confluência das ruas 9 de Julho, Vicente Ferreira e Av. Cascata, voltado para onde hoje está o centro comercial da cidade, corroborando o gesto típico de quem estende a visão até onde a vista alcança, sonhando com as ruas e o comércio de uma nova cidade, a cidade ‘Símbolo de Amor e Liberdade’.
Em tempos de Google e de Geo Cidades, de máquinas fotográficas e celulares com recursos tecnológicos de georeferência, seria muito bom poder corrigir este engano histórico e voltar com o monumento ao seu devido lugar. Nem sempre a solução estética contempla o historicamente correto. Tendo em vista o “ajuntamento” de marcos e monumentos que temos nos fundos da Biblioteca e do Teatro Municipal... mas este é assunto para uma próxima edição. Se não cuidarmos da história, perderemos as nossas referências culturais e a memória.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Artigo Publicado no Jonal Diário de Marília, coluna Raízes, em 20/11/2011



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Marília navegando em altos mares

Navio MARILIA ancorado

Corredeira do Marimbondo - Rio do Peixe

Se hoje falta água, em tempos idos a cidade esbanjava
Ao rever a história da cidade, lá nos tempos da sua fundação, nos deparamos com os mapas cartográficos em que as principais referências geográficas são os rios e córregos da região. Era comum apontar que tal trecho de terra se delimitava pela distância de tantos metros do Córrego da Formiga, ao norte, mais tantos metros da água da Coruja, ao sul, e assim por diante, até que o quadrilátero referencial estivesse traçado.
Os batismos dos rios, na maioria, foram surgindo da criatividade dos desbravadores que, ao adentrarem a mata para abrir as picadas, depois de instalados os acampamentos em determinadas regiões, iam se familiarizando com as peculiaridades do entorno. Os nomes surgiam naturalmente neste universo do folclore caboclo.
Nesta hidrografia referencial, o Rio do Peixe sempre foi a espinha dorsal da região. Devido à importância da água para a agricultura e para o desenvolvimento, esse rio foi o grande responsável pelo surgimento de mais de 80 municípios. Vale lembrar que as incursões exploratórias se serviam do transporte de barcos e o Peixe sempre foi excelente opção de via de acesso.
Quem passa pelas margens das rodovias hoje e observa o seu leito, não tem a mínima noção da potência das águas deste rio. As corredeiras intensas colocavam em risco a vida dos mateiros que tinham a missão de abrir as picadas e estabelecer marcos para outros grupos que viriam abrir os loteamentos de terra, a mando do governo.
Dos afluentes do Peixe, podemos mencionar alguns córregos que são, até hoje, a referência de localização de moradia para os pequenos agricultores que ainda resistem à crescente entrada da cultura extensiva da cana de açúcar, que já rodeia Marília. São eles: Água do Barbosa, Três Lagoas, Córrego do Arrependido, que hoje é fonte de água potável para a cidade, Córrego da Fortuna, Água Mumbuca, Córrego do Pombo, Córrego do Jatobá, Água da Coruja e tantos outros.
Mas, o que pouca gente sabe é que esta ligação da história da cidade com a hidrografia chegou longe, bem mais longe do que se pensava um dia. Marília já foi nome de batismo de um navio mercante, de propriedade da empresa Ishikawajima do Brasil Estaleiros S/A. Na época, o prefeito Octávio Barreto Prado já mantinha bons relacionamentos com o governo estadual e Marília contava com grande número de agricultores e trabalhadores japoneses, nas lavouras do algodão, do café, do arroz, entre outras.
Por isso, a empresa japonesa decidiu prestar esta homenagem ao povo mariliense. O navio cargueiro MARÍLIA, foi o quarto navio de uma série de cinco unidades encomendados ao Estaleiro Ishikawajima, sendo a primeira classe de navios a serem construídos pelo estaleiro. A iniciativa foi da Comissão de Marinha Mercante Brasileira, órgão estatal que gerenciava a Marinha Mercante Nacional.
O fato ocorreu no ano de 1962, no mês do aniversário da cidade, e o lançamento do poderoso navio nas águas do oceano Atlântico ocorreu no Porto Naval do Rio de Janeiro, no estaleiro da Ponta do Caju. Foi assim que o nome da nossa cidade estampou a quilha de um belo navio mercante, levando para águas mais distantes a saga de um povo desbravador das terras da Alta Paulista.
Naquele capítulo da história, orgulhosamente, nosso querido prefeito Tatá bateu a garrafa de champanhe no casco da grande embarcação, batizando-o com o nome de Marília, e assim liberou suas amarras para ganhar outros mares.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos da Câmara Municipal e Cidade de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 06/11, coluna Raízes






domingo, 30 de outubro de 2011

Aprendendo mais sobre abelhas e apicultura


Domingão dos bons.


Aqui em Marília nós temos a FUMARES, um centro de apoio e de assistência de pessoas que se encontram numa fase difícil da vida. Foi criado pelo saudoso prefeito Pedro Sola, na década de 70, e até hoje mantém o serviço de assistência social que é modelo e exemplo de ação eficaz, mantida pelo poder público municipal.
Uma área rural com alguns barracões individuais que acomodam desde a cozinha, a sala de treinamentos, os dormitórios coletivos, sala de TV e sala de trabalhos manuais, entre outras. Criação de porcos, estufa para hortaliças, pequena granja caipira completam o cenário, e tudo é tocado com a efetiva participação dos assistidos, fazendo os trabalhos diários, cuidando da própria alimentação, do plantio, participando de palestras e também sendo iniciados na arte da apicultura. Todas estas tarefas são parte da laborterapia, um conjunto de atividades que ajuda a equilibrar e reintegrar os assistidos, tendo como princípio básico o respeito a si mesmo, ou seja, a recuperação do amor próprio e à vida, e depois, de forma bem natural, o respeito aos próximos.
Foi lá que o Valtinho Saia, zootecnista, e membro fundador da AMAR - Associação dos Apicultores de Marília nos levou hoje para fazer mais uma capacitação no manejo das abelhas e das colméias. Aprendemos a desmembrar colméias para a ampliação do apiário e também com vistas ao melhoramento genético, buscando o fortalecimento da colméia através da renovação da rainha e a melhoria da produtividade.
Enquanto estávamos na sala de treinamento a chuva deu as caras por lá, e isso poderia comprometer a segunda parte prática. Mas nada que o pajé Valtinho não pudesse resolver, pois já havia dito que as imagens do satélite, consultadas pela manhã, davam conta da passagem da frente nebulosa sobre Marília e depois seguiria em frente.
Dito e feito. Por volta das 11 horas da manhã, devidamente equipados, nos reunimos para esta foto e seguimos para o local onde se encontram as colméias, bem debaixo de grandes pés de Calabura. Antes da palestra, o mestre Massa, deu uma rápida oficina sobre encostamento de placas de ceras nos caixilhos das caixas que seriam utilizadas para acomodar as novas famílias.
O evento foi encerrado com um belo almoço aos participantes, e o melhor, com produtos da terra e feito com o maior carinho pelos amigos da FUMARES.
Olha só a gente feliz da vida com a oportunidade de aprendizagem e encontro com os amigos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por que os sinos não dobram mais?




Dois sinos na Capela de São Vicente 


Sino na igreja Nossa Senhora da Gloria, com a inscrição: doado por José de Goes, pelo restabelecimento da saúde do filho Manuel de Goes, 1950 


domingo, 9 de outubro de 2011

Era passar a faca no canto da pia e o gato pular do telhado

Da. Maria e o neto Cleber


Sr. Osvaldo, Da. Maria e o sócio Adolfo Teixeira
Até alguns anos passados, as pias de granilite e os pesados tanques de cimento eram comuns nas casas. Naquele tempo, faca de inox era coisa muito moderna, artigo de luxo, considerado um presentão de casamento. As facas antigas, feitas de retalhos de serrote do tipo trançador, os mesmos que derrubaram boa parte das nossas matas, eram as preferidas das donas de casa.
Bastava uma ou duas passadas no canto da pia e pronto que o corte voltava rapidinho. Não raro, o gato que estava tomando sol no telhado já pulava no terreiro e corria para a cozinha. Gato esperto sabia que som de faca na beira da pia significava que a mistura do dia era peixe e sempre sobrava uma barrigada ou a cabeça para o deleite dos felinos.
Foi assim que Maria Prates de Carvalho, conhecida como ‘dona Maria da banca do peixe’, iniciou o bate papo para nos contar um pouco da sua história. Ela tem 55 anos só de feira-livre, uma vida como ela mesma diz. E adora o que faz. Começou acompanhando o primeiro marido, o senhor Osvaldo José de Carvalho; e, desde então, não parou mais.
Pouca gente tem a mesma habilidade para limpar peixe. Sobre uma pilha de caixas de plástico e uma tábua, ela improvisa a bancada ao lado da banca e vai tirando a barrigada. Tira a escama, corta o rabo ou a cabeça, tira a espinha central, separa o peixe em duas bandas e tira até a pele, tudo ao gosto do freguês.
Dona Maria contou que quando a feira era ainda na Sampaio Vidal, as bancas de peixe ficavam bem pertinho da agência dos Correios. O número de peixeiros era bem maior, tomavam conta de um lado inteiro do quarteirão. No final da feira, a prefeitura mandava um caminhão tanque para lavar a rua e, mesmo assim, o cheiro forte de peixe continuava no dia seguinte. Entre outros feirantes, dividia espaço com dois amigos japoneses, o Sakai do pito e o Kossaka.
Nesta época, os peixes vinham do Rio Paranasão e do Rio Feio, mais precisamente de Panorama e do Salto Botelho, próximo a Lucélia, cidade onde moravam. Montados no caminhão Ford, modelo F600, saíam na madrugada do sábado com destino a Marília e voltavam só na segunda-feira. A pesca era incumbência do próprio marido e do sócio, o amigo Adolfo Teixeira, que traziam do rio os Pacus, as Jurupocas, Pintados, Dourados, a Piracanjuba, e os Barbados, vendidos aos pedaços na banca.
O gelo para conservar o pescado era comprado na Bavária e colocado em pesadas caixas de madeira. Depois, era coberto com palha de arroz para evitar o derretimento mais rápido. As caixas de isopor surgiram nesta história por volta de 1965, tornando o serviço um pouco mais leve e diminuindo o consumo de gelo.
Com a regulamentação da pesca, hoje, a banca exibe poucos exemplares da água doce. O mais comum é a sardinha, que chegou bem depois, devido ao aumento da colônia japonesa em nossa cidade, que dava preferência pela iguaria. As caixas vinham de trem, direto do porto de Santos, daí a expressão sardinha fresca.
Dona Maria conta também que já limpou, em um único domingo, mais de 100 quilos de sardinha. Haja braço e disposição. Com o passar do tempo e a facilidade dos açougues, o hábito de comer peixe diminuiu muito. Tem também esta história de que a mulher moderna não gosta de cheiro de peixe na cozinha, mas, ainda assim, a sardinha fresca é a campeã de venda. Mas tem que ser vendida limpa e lavada. É chegar em casa, jogar o tempero e fritar.
A filha, Neide José de Carvalho, é a sua fiel companheira há 34 anos. Nesta lida de montar e desmontar banca, de feira em feira, são cinco por semana, formaram uma amizade que transcende o grau de parentesco. Dona Maria diz que adora o que faz e não pretende parar de trabalhar tão cedo. Criou os filhos e viu os netos crescerem com a alegria de toda mãe, e de avó, que sabe que fez e faz o melhor por todos.
Ela tem o coração do mesmo tamanho do sorriso que distribui a todos os fregueses.

Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, coluna Raízes, em 09/10/2010



domingo, 2 de outubro de 2011

Pelo modelo do chapéu se conhecia o tamanho da boiada

Kazuko, a filha
Sr. Shinsho e esposa



Em uma destas costumeiras incursões fotográficas pela feira livre, ambiente rico em propostas culturais, cores, aromas e sons, em dado momento a banca de chapéus prendeu a atenção. Isso mesmo! Na feira, tem uma banca que vende chapéus.
As pessoas param, observam... e não resistem à tentação de experimentar alguns modelos e se mirar no espelho. O movimento não tem idade. Desde as crianças, aos de idade mais avançada, é quase que irresistível pegar um, dois, três ou mais modelos e fazer poses e olhares debaixo das abas, de palha, de lona ou de materiais sintéticos.
O chapéu já foi um complemento do traje social em tempos não tão distantes, para mulheres e para homens. No caso deles, o conjunto era completado com o paletó, de linho, os sapatos, sempre bem lustrados, e a gravata. Durante o dia, chapéus de palhinha, que podem ser de uma palha ou de duas palhas, termos utilizados para determinar a trama e o arremate no acabamento. Na sabedoria dos lavradores mais experientes, quando o sol está muito quente, usa-se colocar duas folhas de mamona por dentro da copa do chapéu para amenizar o calor. No período da noite, caía bem um chapéu de feltro, para combinar com o terno e com a ocasião, social ou mais esportiva.
Para as damas, chapéus com mais requintes de decoração e acessórios, como tules, penas, miniaturas de pássaros, flores ou pequenas joias adornando os arremates.
Nas ruas, o movimento era intenso e, ao cruzar com as pessoas, num gesto de cavalheirismo e de respeito, retirava-se o chapéu da cabeça, curvando-se levemente em direção ao interlocutor, sempre acompanhado de um bom dia ou boa tarde ou da expressão “meus respeitos”. Este ato se repetia ao passar em frente à igreja ou à capela, ou mesmo na frente do portão do cemitério, fazendo em seguida o sinal da cruz quando católicos. Não tirar o chapéu diante de uma pessoa ao cumprimentá-la era ato explícito de desrespeito.
É claro que isto não valia para os coronéis ou fazendeiros, que se davam ao direito de manter a cobertura na cabeça diante dos caboclos e serviçais. Há até uma brincadeira que diz: “Dá para conhecer o tamanho da criação de gado do fazendeiro pelo tamanho da aba do chapéu; quanto maior a aba, maior a boiada.”
Nos cinemas, nos hotéis ou nos teatros, havia as chapelarias para guardar o acessório, durante a apresentação do espetáculo ou mesmo na participação em uma conferência. Além do chapéu, era comum guardar as famosas capas de chuva dupla face e as luvas de couro. Dia destes, em viagem a São Paulo, vi que um destes hotéis mais tradicionais ainda conserva a chapelaria.
Chapelaria São Luiz
Diante deste tema tão rico, a curiosidade me levou a visitar e a conhecer a Chapelaria São Luiz. Lá, eu fui atendido pela simpática Kazuko, filha dos comerciantes pioneiros Shinsho Miyagui e Sra. Katsu Miyagui, vindos de Okinawa, província que fica ao sul do Japão, constituída por 169 ilhas.
A loja está instalada na rua Arco Verde, 252, mas o início das atividades foi na rua São Luiz, 973, onde permaneceu até o ano de 1960. Kazuko nos contou que o pai era tintureiro e reformava chapéus, utilizava uma forma especial para poder passar e engomar as abas e depois deixava no sol para secar a goma. Devido à prática na profissão, quando surgiu a oportunidade instalou a sua própria empresa no ano de 1945.
A loja na rua Arco Verde há 51 anos, ainda conserva os mesmos ares que inspiraram os pais no passado. Nas vitrines, vários modelos de chapéus para tender aos mais exigentes gostos e agora conta com a linha de chapéus femininos, novidade que atraiu uma nova clientela . Nas paredes, espelhos estrategicamente colocados, para que as pessoas possam se admirar, num momento de bem estar e bom gosto. São janelas do tempo.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 02/10/11, Caderno Revista



segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fogo na área urbana é problema na certa


Hoje, hora do almoço, saio do trabalho com destino para casa. Ao descer os primeiros quarteirões da rua Amazonas, sentido centro-bairro, noto uma coluna de fumaça subindo no horizonte.

Com a experiência aprendi que fumaça nos tons marron claro ou cinza, puxando para o mais escuro, é capim seco queimando. De vez em quando tem fumaça negra no meio, o que pode sugerir outro tipo de incêndio (fios elétricos, por exemplo) mas quase sempre é um pneu jogado no mato que acaba mesclando os tons e engana.
O tempo do almoço é curto, mas não perco a chance de uma boa foto por nada. Aprendi desde cedo que onde tem fumaça, tem fogo. Passo a Santa Casa de Misericórdia e entro na av. Cascata, sentido represa da Cascata. Notei que a coluna estava mais a esquerda dos meus pontos de referência. Sigo em frente pela rua Cincinatina.
Ao mesmo tempo notei que o avião comercial fazia uma curva nos céus, onde geralmente não o faz. Por morar próximo ao aeroporto, conheço os trajetos aéroes e a tomadas de cabeceira de pista para pousos.
No final da Cincinatina dá para se observar as aeronaves decolando ou pousando, aliás, um dos locais privilegiados para boas fotos do tema. Daquele ponto vejo que o fogo estava no vale, subindo em direção a mata de eucaliptos e do pasto, que há tempos faz limite com um dos mais belos bairros da cidade.
Estaciono o veículo, avalio a situação, divago um pouco sobre o contexto geral e o som do motor do avião me desperta os sentidos. Passo a mão na bolsa de fotos que fica sempre na parte traseira do banco do passageiro e adrenalina sobe, acompanhando o barulho do avião que se aproxima do ponto de descida na pista. Não vai dar tempo, não vai dar tempo...Saque rápido e três disparos no rumo do barulho e da fumaça.
Descobri que o piloto fez a manobra mencionada, mais alto e fora do ponto costumeiro, justamente para esperar o momento certo de uma mudança no vento para liberar o visual da pista.
No sábado foi dia de limpeza na represa Cascata e foi lá também que registrei algumas cenas de queimada de áreas de preservação permanente e de um grande pé de Jambolão. Fogo não nasce do nada, ainda é preciso maior conscientização de todos.





sábado, 24 de setembro de 2011

Marília faz mutirão de limpeza na Cascata


Hoje (24) acontecerá em Marília o Internacional Costal Clean Up (ICC), maior evento internacional envolvendo voluntários para a limpeza e conservação de rios e praias. Contando com aproximadamente 200 pessoas, o mutirão de limpeza será realizado na Represa da Cascata e percorrerá uma extensão de 900 metros, tendo a barragem da Cascata como ponto de referência para encontro e gerenciamento de todo o evento.


A retirada do lixo será feita por quatro grupos de voluntários, maiores de 18 anos, monitorados por seus respectivos coordenadores. A organização do evento está a cargo da Ocean Conservancy e RKBC Turismo em parceria com entidades locais e patrocinada pela da Spaipa Coca-Cola.

Todo o lixo retirado será catalogado, pesado, fotografado e mandado para o aterro sanitário municipal. Os dados coletados pelos coordenadores serão mandados para o Centro de Conservação dos Oceanos (Ocean Conservancy) para análise estatística que será encaminhada para a ONU, responsável pela Comissão Intergovernamental Oceanográfica (IOC). São os resultados mundiais dessas análises que permitem à IOC convencer os países a se tornarem signatários do “Marpol Treaty”, um tratado internacional de controle de poluição marinha. A limpeza será feita das 8h às 12h.
Fonte: Jornal da Manhã.

A fotoquefala esteve lá e registrou a equipe de voluntários que se empenhou em mais esta ação de sustentabilidade.





quinta-feira, 22 de setembro de 2011

As mudanças na paisagem




No centro da cidade avança a “modernidade” e dispersa a memória


O domingo passado foi bem agitado lá pelos lados do “centro velho” da cidade. Acho interessante esta expressão porque ela formaliza a consciência de que o passado ficou velho, esquecido no tempo e nas lembranças.
É assim que as emissoras de televisão se referem à região da ‘cracolândia’, em São Paulo, ou mesmo quando falam da ilustre Estação da Luz. No caso da estação a criatividade e o financiamento público conseguiram superar a dificuldade com a instalação do Museu da Língua Portuguesa.
Missão difícil esta de manter viva a memória de um povo através da preservação dos prédios históricos e monumentos. Muitas vezes, a vontade de alguns esbarra no desinteresse da maioria e acaba ficando só na vontade.
Quando o assunto é com as cidades históricas, a busca por verbas de patrocínio cultural se torna mais acessível e as chances de preservação de uma parte da história aumentam, jogando a favor da cultura e da memória.
Aliás, eu pergunto: e qual cidade não é histórica?
Prédio velho é um enigma. Se deixamos como está, não aluga porque tem problema de vazamentos de toda ordem, tem problemas com banheiros, com escadas, com as portas e cubículos, que não atendem às novas normas de segurança e prevenção de incêndio, com assoalhos de madeira, com a fiação elétrica e com o quadro de distribuição da rede de energia, entre outros. A estrutura vai se deteriorando mais a cada dia e se torna um perigo iminente, em pleno centro comercial, porque as infiltrações das águas de chuva, nas velhas calhas esburacadas pela ferrugem, fazem um trabalho silencioso.
Mesmo um bom projeto de revitalização do espaço vai exigir grandes investimentos para adequar-se às novas exigências legais de segurança e ocupação. A conta não fecha porque na hora de se celebrar um novo contrato de locação o inquilino vai se basear nos valores de aluguéis que vigoram na região, deixando de lado a questão histórica cultural. Seria preciso uma linha de crédito especial, via governo federal ou estadual, para incentivar a vontade pública da preservação, com a necessária modernização.
Enquanto este impasse não tiver uma boa proposta, a tendência é a substituição gradativa dos velhos prédios por novos empreendimentos comerciais.
É assim que Marília despertou na segunda-feira, 12/09, com mais duas páginas viradas na sua história. O prédio residencial, localizado na esquina das ruas 4 de Abril com a Prudente de Moraes, onde já funcionou também o Hotel Federal, fecha suas portas definitivamente. Acabou também a Peixaria Sakai, na rua 15 de Novembro, bem ao lado do Mercadão Municipal, e mais seis pequenas casas que ficavam nos fundos foram demolidas.
O interessante é que as paredes do sobradão da 4 de Abril, altas e largas, não têm vigas ou amarração, é tijolo sobre tijolo e argamassa. Chamam a atenção os recortes e rococós que fazem o acabamento dos beirais e sacadas, obras de arte que integram o design visual do conjunto e que na época já davam o toque do tridimensional; basta olhar para os barrigudinhos que adornam a parte inferior das janelas e se percebe esta proposta claramente.
Hoje, são áreas comercialmente nobres, porém, os prédios nobres do passado já não encontram mais seu espaço.

Ivan Evangelista Jr,
Da Comissão de Registros de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, coluna Raízes, em 18/09/11



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os consertadores de panelas


Fotos:
1) Sr. Oscar Alves de Souza, há 30 anos consertando panelas na feira-livre
2) Juventino Pandolpho, 84 anos, desde 1966, fazendo e vendendo vassouras caipiras na feira, arte que já passou para os filhos

É na feira livre que tudo acontece, do ruído ao aroma das ervas


Em tempos em que as empresas clamam urgente por profissionais cada vez mais especializados, é possível notar que algumas profissões atravessam os anos e se perpetuam com a colaboração popular. Passeando pela feira-livre de domingo, encontramos alguns exemplos, como o vendedor de temperos, que geralmente faz uma juntada de vários condimentos, tendo como ingrediente principal a pimenta do reino, todos moídos na hora, naqueles moinhos de manivela ajustados em uma mesa improvisada para atender a freguesia exigente. O aroma peculiar se espalha pela redondeza e vai se misturando com outros cheiros, despertando sentidos e provocando diferentes sensações.
Tem também o vendedor de vassouras. Elas são amontoadas em pé, bem na passagem dos transeuntes para chamar mais a atenção dos potenciais compradores. Os fios são amarrados com cordões nas cores vermelho e verde, contrastando com o fundo amarelo e dando aquele toque especial no acabamento.
E se tem um lugar em que a alegria popular corre solta é na feira. Não raro, um espírito de porco mais saidinho, ao ver a dona de casa comprando a vassoura já grita do outro lado da rua: quer que embrulhe ou vai voando mesmo? Seria mais do que motivo para uma boa briga, mas na feira não. As pessoas sabem que não há maldade. O que prevalece é o bom humor brasileiro.
Mas há ainda outra banca tradicional, que sempre tem freguesia esperando a sua vez de ser atendida - o consertador de panelas. Tem muita gente que ainda leva panela para trocar o cabo que quebrou, ou para arrumar o fundo que ficou repuxado pelos anos de uso e fogo intenso. A velha panela de pressão, que no popular diz-se que “perdeu a pressão”, depois de cortada ao meio, pode se transformar numa nova panela, boa de temperar feijão e para fazer caldos que requerem tempo de cozimento mais longo.
A justificativa para esta demanda de serviço é a qualidade dos alumínios mais antigos, geralmente mais grossos e resistentes, mercadoria de primeira. Acho que também o costume de consertar panelas vem dos tempos do pós-guerra, tempos em que o metal já foi bem mais caro e o inox ainda não era utilizado em utensílios de cozinha.
A oficina ambulante é um misto de improviso e de tecnologia. Um pé de ferro, que já foi de sapateiro, uma peça circular na forma de uma grande coroa, que já foi de automóvel, soldados a uma grande barra de cano, formam a bancada de trabalho. Para completar, uma escova de aço, o puxador de arrebites, um pedaço de toco para bater nos fundos das panelas e ajustar as beiradas, e mais alguns martelos, de todos os tamanhos e formatos.
Espalhados pela banca, estão os cabos, curtos e compridos, retos ou curvos, as tampas de vários tamanhos, as borrachas para panelas de pressão, os botões coloridos dos acendedores dos fogões, as tampinhas de alumínio dos queimadores, os registros para regular o gás e mais um montão de acessórios.
O som típico do martelo batendo no alumínio vai longe. Enquanto esperam, homens e mulheres comentam o quanto são bons os produtos de antigamente. E, já que o assunto está na cozinha, aproveitam o tempo para trocar receitas e dicas de culinária.
Já te passaram aquela do feijão cozido com carne moída e cobertura de torresminho e cheiro verde? Ainda não? Ah... então não perde tempo não, passa a mão numa leiteira sem cabo e aproveita que hoje é o domingo.

Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília

*Publicado no Jornal Diário de Marília, caderno REVISTA, em 11/09/11



Ruas sem saída


Quando nos encontramos em uma situação problema, de difícil solução, é comum as pessoas dizerem que estamos num beco sem saída. No popular, esta expressão sempre foi muita utilizada, mas pouca gente sabe que em Marília nós temos várias ruas sem saída.
Talvez o leitor possa se perguntar por que alguém deixou acontecer, no passado, a criação de uma rua que não tivesse passagem livre para veículos e pessoas, e também encurralando as residências instaladas nestes endereços. Por outro lado, as crianças sempre gostaram porque ficam livres para brincar de bola, de pique-salva, podem jogar amarelinha e outras atividades lúdicas que sempre aconteceram na rua.
A resposta passa também pela condição geográfica da cidade que em muitos casos não favorece a distribuição simétrica das ruas, pois estamos em cima de um grande espigão e isto delimita a expansão dos bairros. Mas há também de se considerar o fato de que muitos loteamentos urbanos surgiram a partir da instalação de grandes indústrias que acabaram atraindo a construção de casas ao seu redor e limitando as vias. Foi assim com a Vila São Miguel e com o bairro Fragata, por exemplo, onde respectivamente as indústrias Zillo e a Anderson Cleyton, movimentaram a economia e incentivaram a instalação de um grande comércio de periferia para dar suporte aos novos núcleos habitacionais que surgiam freneticamente.
Vamos mencionar algumas ruas que são mais conhecidas, mas é certo que existem muitas outras: Rua Coelho Neto, no bairro São Miguel, onde hoje se encontra a indústria Marcom, rua Chisato Hatada, no bairro Fragata, rua Antonio Rossini, próxima ao bosque municipal, rua Farah Salomão Farah
E você caro leitor, conhece outras ruas sem saída em Marília? Envie seus comentários e sugestões.

Comissão de Registros Históricos de Marília
Rua Bandeirantes, 25, prédio da Câmara Municipal
Horário: das 8h00 às 12h00, de segunda à sexta-feira, das 13h30 às 18h00
Fone: (14) 21052000
e-mail: registroshistoricosmii@gmail.com

*Publicado no Jornal Diário de Marília - caderno REVISTA, em 04/09/11


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pianos branos

Se não estou enganado, foi no mês de julho deste ano que a cidade de Nova York instalou 70 pianos em locais públicos. Isso mesmo, 70 pianos, nas praças e em outros locais de grande circulação de pessoas, uma isca, um chamariz para os amantes da boa música.
Ao passar pelo local, quem tivesse vontade e soubesse tocar, poderia sentar-se e dar uma mostra do talento. Foi pura provocação, afinal, um piano em praça pública é um convite dos melhores para fazer com que as pessoas parem um pouco na sua correria diária e mudem a sintonia.
Marília não tem pianos, mas tem ipês brancos.
Quem passou hoje pelo centro da cidade viu. Na praça Saturnino de Brito, no jardim da prefeitura, bem ao lado dos mastros das bandeiras oficiais, na frente da biblioteca e do Museu de Paleontologia, e também no jardim da Igreja Nossa Senhora da Gloria. Ficou tudo branco.
Não tem como não notar, o reflexo das flores interferiu nas cores urbanas de tal forma que transformou o cenário local em um grande espetáculo a céu aberto.
E não é que apareceu um tocador de piano no meio disso tudo ! Eu estava parado no semáforo, envolvido pela música branca, quando notei, debaixo da grande seringueira da Praça o "tocador de piano".
Na batida ligeira do olhar, foram o chapéu e a barba do personagem que me prenderam a atenção trouxeram a lembrança do ilustre Santos Dumont. Depois notei que sobre seu colo havia uma espécie de maleta, de onde se erguia um pequeno cavalete para dar suporte a uma tela de pintura. De camisa branca, mais parecia um personagem saído das páginas de um livro de histórias infantis, ou talvez da capa do CD da Ênia, vestindo calça social e de pernas cruzadas à moda dos antigos cavalheiros.
Olhava para os ipês da prefeitura e depositava na pequena tela os traços captados pela mente absorta; absorta sim, mas focada na poesia da florada branca.
Tocava piano com o pincel e as notas musicais iam se espalhando pela praça, ajudada pelo vento forte que soprava as folhas secas, dando notas de mais uma mudança no clima.
E a foto? - Não fiz, tudo foi muito rápido e até sacar a Nikon, da bolsa escondida entre o banco da frente e o dos passageiros, o semáforo abriu, e um motorista que estava logo atrás, disparou a buzina. Ele não ouviu a música, acho que foi isso.
Ivan Evangelista Jr
afoquefala

* A cena é tão inusitada para uma segunda-feira, que no retorno do horário do almoço eu vi equipes de reportagens presente na praça registrando o fato.
A fotoquefala antecipou o assunto. Amanhã, veremos a matéria nos jornais, e quem sabe, ainda hoje, no SP TV ou na Tv Record.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Novo poço profundo na Cascata


A torre metálica, vista lá da av. das Esmeraldas, me chamou a atenção para o vale da Cascata.
Conheço bem a região, fotografo por ali com certa regularidade e não havia notado a presença da tal torre. A primeira idéia que me veio foi a instalação de mais uma antena repetidora para celular, mas ali, na baixada da Cascata, estava estranho demais.
A Fotoquefala não pode ficar na dúvida e fui até conferir de perto. Encontrei na verdade uma bela estrutura de perfuração de um novo poço profundo que vai integrar o sistema de abastecimento da água da cidade. Estranhei também que não havia ninguém pescando por lá e notei a presença de um segurança na área.
O que me intrigou foi que eu não vi notícias sobre este novo poço nos jornais. Na dúvida, fiz contato com a equipe do Jornal da Manhã e perguntei se haviam publicado alguma matéria sobre o assunto. A resposta foi não e que eles buscariam maiores informações.
O amigo Leonel Nava, meu vizinho, disse que viu matéria em um dos canais fechados da cidade, sabia do assunto em razão disso, sabe por exemplo, que o poço terá 1.200 metros de profundidade.
Na edição de hoje do Jornal Diário de Marília, matéria comenta a presença do segurança na área da represa Cascata, dizendo que a medida foi exigida pelo Ministério Público, após acordo com o DAEM, mas não comentou sobre a presença da mega estrutura que está perfurando o poço no mesmo local, foto fechada, apenas do segurança e da sua motocicleta.
Eu esperava algo neste sentido, desde o último incêndio que registramos por aqui. A promotoria acionou os proprietários da Cascata pelo incêndio em área ambiental. Por sua vez, a Cascata se defendeu dizendo que a represa é área pública, ou melhor , de servidão pública, que fornece água para abastecer parte do município e que a responsabilidade deve ser compartilhada uma vez que não se pode proibir a entrada de estranhos.
Quem morou em Marília sabe disso; a Cascata é notícia desde os tempos do sapatão de sola de pneu. As ocorrências de morte por afogamento, principalmente de menores, durante as temporadas do verão, eram freqüentes, e voltam a acontecer nos dias atuais. A presença constantes de pescadores na área é outro fato corriqueiro e daí segue uma corrente de problemas, começando pelo lixo deixado no local, pela falta de segurança, pelos riscos de novos incêndios em razão da pesca no período noturno, com fogueiras acesas nas margens, para esquentar o frio ou espantar pernilongos, da presença de usuários e drogas e outros problemas.
Hoje a região da represa está bem mais ocupada. Tem um grande loteamento/condomínio de chácaras, com sistema de acesso controlado por portaria e vigilância, na estradinha que segue no sentido da av. das Esmeraldas, as casinhas mais antigas, ou foram derrubadas ou passaram por boas reformas e as chácaras ganharam campos de futebol e áreas de lazer, há também um campo de futebol, por enquanto de uso público, bem pertinho da represa, que nos finais de semana tem pelada de primeira.
Em uma das postagens aqui na lista eu comentei que poderiam pensar em instalar uma sede, ou posto da Polícia Ambiental, regulamentando a presença de pessoas nesta área, criando um ponto de atração turística, de pesca esportiva, de atividades físicas, de passeios para estudantes e de atividades ligadas ao meio ambiente, podendo ainda contar com um viveiro de mudas e posto de coleta de material reciclável, começando pelo lixo que as casas ao redor produzem, entre outras alternativas viáveis.
Com a instalação do novo poço é certo que teremos maior movimento na área e a possibilidade de maior controle. É triste ver nas margens da estrada o despejo de sacos de lixo, de entulho e restos de construções, de isopor que acondicionavam geladeiras, TVs e outros equipamentos domésticos. Uma questão de Educação Ambiental, sem dúvida.

Ivan Evangelista Jr
evangelista@univem.edu.br


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sorria Marília, você está no Google

Olá pessoal.

No Jornal da Manhã, edição desta terça-feira, 2/08, foi publicada a informação sobre a presença da equipe do Google em Marília. Vale registrar também que o amigo Leonel Nava nos deu importante contribuição sobre o sistema de trabalho, sobre a captação e seleção das imagens, para posterior publicação.
E com um pouco de sorte, hoje, novamente, eu tive a felicidade de fazer outro flagrante sobre o assunto, quando me dirigia para casa no horário do almoço. Ao cruzar a linha férrea, nas imediações da Galeria Atenas eu avistei o veículo em plena ação.
Foi o tempo exato de parar o veículo na rua Amazonas, pouco abaixo da Casa de Portugal, sem ter tempo para sair do carro, saquei a máquina do coldre e dispararei o gatilho.
Até o motorista do Google se assustou quando percebeu a lente da objetiva na mira do seu caminho.

(confira a matéria do Jornal da manhã)
Sorria Marília, você está no Google!

02/08/2011 Tamanho do texto: A A A
No último domingo (31), o site Afotoquefala descobriu neste em um estacionamento de Marília, o veículo mapeador do Google Street View e antecipou a novidade informando que o veículo chegou à cidade na sexta-feira (29) e que, ao que tudo indica, os trabalhos de fotografia da cidade deveriam ter início ontem (1).
“Considerando que o Google maps é bem detalhista em seu trabalho, fico aqui imaginando como é fazer um serviço deste naipe. Como percorrer rua por rua da cidade para captar detalhes, ou será que vão apenas registrar as principais vias de escoamento do trânsito e os locais com atrações turísticas?”, comentou o autor do site, Ivan Evangelista Jr.
“Considerando a condição geográfica de Marília, as ruas Pedro de Toledo, av. Sampaio Vidal e rua Castro Alves, av. República, av. Santo Antonio, rua Vinte e Quatro de Dezembro, av. Tiradentes, rua Vicente Ferreira e Brigadeiro Eduardo Gomes, por exemplo, são as principais longitudinais. Na transversal, ruas com grande extensão temos: rua 9 de Julho, rua Sete de Setembro e cel. José Braz, av. Rio Branco e av. da Saudade, entre outras. Penso que ruas e bairros como a Nova Marília e o Santa Antonieta não devem ficar de fora e mais o distrito industrial”, acrescentou Evangelista.
“Um adesivo no painel frontal interno do veículo indica as medidas de altura da haste telescópica que sustenta as várias câmeras e que se parece muito com uma bola de futebol. Vi também que no lugar do banco da frente do passageiro, encontra-se instalada um monitor de vídeo que deve retransmitir as imagens captadas e ajuda o controlador a posicionar melhor todo o equipamento”, concluiu.







domingo, 31 de julho de 2011

Google maps está em Marília


A fotoquefala descobriu neste domingo, em um estacionamento aqui da cidade, o veículo mapeador do Google Street View e antecipa a novidade aos nossos amigos.
O carro chegou na sexta-feira, pouco antes do anoitecer e não houve qualquer sinal de movimento no sábado e também no domingo. Ao que tudo indica os trabalhos de fotografia da nossa queria Marília devem se iniciar na segunda-feira, 1 de agosto, e com um pouco de sorte poderemos encontrá-lo pelas ruas da cidade.
Considerando que o Google maps é bem detalhista em seu trabalho, fico aqui imaginando como é fazer um serviço deste naipe. Como percorrer rua por rua da cidade para captar detalhes, ou será que vão apenas registrar as principais vias de escoamento do trânsito e os locais com atrações turísticas?
Considerando a condição geográfica de Marília, as ruas Pedro de Toledo,av. Sampaio Vidal e rua Castro Alves, av. República, av. Santo Antonio, rua Vinte e Quatro de Dezembro, av. Tiradentes, rua Vicente Ferreira e Brigadeiro Eduardo Gomes, por exemplo, são as principais longitudinais. Na transversal, ruas com grande extensão temos: rua de julho, rua sete de setembro e cel. José Braz, av. Rio ranco e av. da Saudade, entre outras.
Penso que ruas e bairros como a Nova Marília e o Santa Antonieta não devem ficar de fora e mais o distrito industrial.
Adesivo no painel frontal interno do veículo indica as medidas de altura da haste telescópica que sustenta as várias câmeras e que se parece muito com uma bola de futebol. Vi também que no lugar do banco da frente do passageiro, encontra-se instalada um monitor de vídeo que deve retransmitir as imagens captadas e ajuda o controlador a posicionar melhor todo o equipamento.
Vamos aguardar e acompanhar os trabalhos. Sejam bem vindos caros amigos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

As cores e os aromas do inverno


O hábito de curtir e cultivar o quintal variado em flores e frutos é crédito do meu pai. Da infância, trago lembranças dos canteiros de couve, do alho plantado na lua nova, das bananeiras, da parreira de uvas e do pé de laranja baiana, entre tantas outras variedades, sinônimo de fartura e entretenimento entre a rega diária e o apreciar da produção caseira.
Hoje, manhã fria de terça-feira, já com gosto e final de férias de julho no ar.
Após a leitura dos jornais e respostas de alguns e-mails, o dia vai tomando rumo na organização mental da agenda. Um cheiro bom de flor de limoeiro toma conta da casa e se intensifica, acordo com a direção da brisa.
Depois de dois ou três anos, não lembro bem ao certo, é a primeira vez que vejo o limoeiro coberto de flores assim, coisa de cinema mesmo, parece até que as flores foram jogadas propositadamente sobre os galhos. Acho que a chuva que caiu estes dias foi a grande responsável pela explosão dos botões brancos que estavam incubados.
Saio do escritório para sentir mais de perto o aroma e me dou conta que outras flores também estão dando o ar da graça e enfeitando o quintal. Mais do que isso, estão dando matéria prima para as abelhas que se enfronham entre os pistilos e o pólen e saem com as patinhas carregadas rumo as colméias. É um vai e vem que não tem fim, trabalho duro e silencioso para fazer o mel.
Aliás, não tão silencioso assim. Sintonizando os ouvidos para esta freqüência da vida, pode-se apreciar o zumbido das asas enquanto pulam de uma flor para outra.
Na linguagem da apicultura, a florada é chamada de pasto apícola, neste caso, da melhor qualidade possível. No pequeno terreno as Jataís e outras espécies encontram: flor de Galego, flor de Jabuticaba, flor da Pitangueira, flor de Maracujá e uma enorme rosa que disputa o sol entre os galhos do limoeiro e flor de Manjericão.
Isso sem falar que o pé de Amor Agarradinho, trepadeira que gosta de cantinhos tipo meia sombra e meio sol, que também desencantou e está crescendo com vitalidade.
Na semana que passou visitei um amigo e da casa dele trouxe uns ramos de Melissa, planta é conhecida como excelente calmante e que tem um aroma muito agradável. Dos ramos mais fortes eu fiz três mudas que espetei na terra, ele disse que brotam com facilidade, já as folhas mais novas eu fiz um amarradinho e pendurei bem pertinho da mesa de trabalho, na oficina que tenho na área do fundo.
É lá também que eu derreto a cera que resta dos caixilhos das colméias. Cheiro de flores, cheiro de mel, cheiro de grama molhada, cheiro de madeira, cheiros de vida em pleno inverno. Um gole de café quentinho e a vida (re)começa, cheia de esperança e gratidão.

Por Ivan Evangelista Jr

*Publicado também no Jonal da manhã, Caderno 2, edição de 27/07/2011, conf. abaixo:

As cores e os aromas do inverno

27/07/2011 Tamanho do texto: A A A

“O hábito de curtir e cultivar o quintal variado em flores e frutos é crédito do meu pai. Da infância, trago lembranças dos canteiros de couve, do alho plantado na lua nova, das bananeiras, da parreira de uvas e do pé de laranja Baiana, entre tantas outras variedades, sinônimo de fartura e entretenimento entre a rega diária e o apreciar da produção caseira. Hoje, manhã fria de terça-feira, já com gosto e final de férias de julho no ar. Após a leitura dos jornais e respostas de alguns e-mails, o dia vai tomando rumo na organização mental da agenda. Um cheiro bom de flor de limoeiro toma conta da casa e se intensifica, acordo com a direção da brisa.”

O texto acima, postado no blog www.afotoquefala.blogspot.com por Ivan Evangelista Jr, reflete a sensibilidade do fotógrafo mariliense, que continua descrevendo suas emoções diante da observação da natureza, prática que costuma fazer tão bem, nos presenteando sempre com belas fotos que ilustram fielmente suas palavras:

“Depois de dois ou três anos, não lembro bem ao certo, é a primeira vez que vejo o limoeiro coberto de flores assim, coisa de cinema mesmo, parece até que as flores foram jogadas propositadamente sobre os galhos. Acho que a chuva que caiu estes dias foi a grande responsável pela explosão dos botões brancos que estavam incubados.

Saio do escritório para sentir mais de perto o aroma e me dou conta que outras flores também estão dando o ar da graça e enfeitando o quintal. Mais do que isso, estão dando matéria prima para as abelhas que se enfronham entre os pistilos e o pólen e saem com as patinhas carregadas rumo as colmeias. É um vai e vem que não tem fim, trabalho duro e silencioso para fazer o mel.

Aliás, não tão silencioso assim. Sintonizando os ouvidos para esta frequência da vida, pode-se apreciar o zumbido das asas enquanto pulam de uma flor para outra.

Na linguagem da apicultura, a florada é chamada de pasto apícola, neste caso, da melhor qualidade possível. No pequeno terreno as Jataís e outras espécies encontram: flor de Galego, flor de Jabuticaba, flor da Pitangueira, flor de Maracujá e uma enorme rosa que disputa o sol entre os galhos do limoeiro e flor de Manjericão.

Isso sem falar que o pé de Amor Agarradinho, trepadeira que gosta de cantinhos tipo meia sombra e meio sol, que também desencantou e está crescendo com vitalidade.

Na semana que passou visitei um amigo e da casa dele trouxe uns ramos de Melissa, planta é conhecida como excelente calmante e que tem um aroma muito agradável. Dos ramos mais fortes eu fiz três mudas que espetei na terra, ele disse que brotam com facilidade, já as folhas mais novas eu fiz um amarradinho e pendurei bem pertinho da mesa de trabalho, na oficina que tenho na área do fundo.

É lá também que eu derreto a cera que resta dos caixilhos das colmeias. Cheiro de flores, cheiro de mel, cheiro de grama molhada, cheiro de madeira, cheiros de vida em pleno inverno. Um gole de café quentinho e a vida (re)começa, cheia de esperança e gratidão.”

 

domingo, 17 de julho de 2011

Memoria olfativa

Já declarei que sou fã de carteirinha da Nina Horta, escreve sobre culinária na Folha, sempre nas quintas-feiras.

Além de boa cozinheira e dona de Buffet, ela tem o dom da escrita e do resgate de algumas passagens que ficaram ao longo da história de quase todos nós. Fazendo um parêntese nesta historia toda, outro dia eu conversava com a Tia Rosalina Tanuri, professora e historiadora de Marília, minha colega da Comissão de Registros Históricos, sobre ela escrever um artigo que falasse sobre os cheiros que são parte da nossa memória e que vez ou outra surgem, impulsionados por um fato, por uma fala ou mesmo por uma foto.
Na brincadeira da conversa fomos resgatando aleatoriamente: o cheiro do Matarazzo, cheiro de amendoim torrado e depois cozido na soda para fazer sabão e o cheiro da margarina, depois veio o cheiro de sardinha fresca na feira de domingo, era quase meio quarteirão de bancas vendendo peixe e jogando água e mais água para tirar as escamas e a barrigada impregnada no asfalto, tinha também o cheiro do bueiro da indústria Macul,onde a água quente escoada pela caldeira corria livre na sarjeta da rua São Luiz, um cheiro misto de algodão cru com soda, e tem também o cheiro do trem, passando pelo centro da cidade, carregado de bois vindos lá dos pastos do Mato Grosso. O comboio tinha que fazer parada para as trocas de trilhos e manobras e o tal cheiro de boi ficava no ar por horas a fio.
Quem andou pela FEPASA ainda tem o “cheiro de trem” nas narinas, um misto de graxa com ferro oxidado que dava enjôo até em envelope de sal de frutas. Para contrabalançar, cheiro de bala Sete Belo, lá da chaminé da indústria Ailiram, e também o cheiro da cocada preta, este da fábrica de doces São José que ficava na rua Vinte e Quatro de Dezembro. Mas a gente teve que agüentar por muito tempo também o cheiro do curtume do Ferreirinha, cheiro de couro de boi, misturado com sebo e gordura, mais forte que o cheiro do córrego do Pombo que até hoje leva o esgoto da cidade para os campos, onde o café maduro, colhido e jogado no terreiro, seca ao sol quente do meio dia.
Lá de casa e da infância, guardo ainda o cheiro dos bolos de noiva que a mãe fazia sob encomenda, das balas de coco, puxadas na mão e cortadas na tesoura, ainda quentes para não perder o ponto, da calda de abacaxi, batizada com vinho ou Martini, para rechear os bolos, da calda de chocolate de cobertura e do forno já morno na madrugada.
Só quem sentiu e comeu sabe o cheiro bom de bife feito sobre a chapa do fogão de lenha, enquanto a dobradinha cozinhava na última boca do fogão para não pegar muita caloria, coisa de dia e meio para ficar pronta, cheiro de guarda-roupas velho e empoeirado, lá no quartinho dos fundos, cheiro de uvas frescas penduradas nas parreiras, esperando o tempo certo da colheita e, para não ir muito mais adiante, cheiro de terra fresca molhada de canteiros de couve, almeirão, alface e de temperos, sempre regados no final da tarde, que dava a introdução para o cheiro da sopa quente no fogão a lenha.
Ainda ontem, depois de regar as plantas do quintal para tentar vencer um pouco a secura que toma conta do cenário, sentei-me próximo do pé de galego que está carregada de flor e fiquei ali enchendo os pulmões de um aroma sem igual.
E eu só me lembrei disso tudo porque visitei o blog da Nina Horta (http://ninahorta.folha.blog.uol.com.br/) e encontrei este belo texto:

Dificuldades inerentes a uma receita.

Passei o sábado e o domingo traduzindo um artigo sobre crítica gastronômica para fazer meu post. Pois quando fui passar para o blog, perdi. Já fiz tudo para achar e sumiu de vez. Mas... na próxima semana prometo traduzir o mesmo de novo ou conseguir coisa melhor. Bandido. Acho que foi praga de todos os críticos gastronômicos ao mesmo tempo.

Fiquem então com a receita de pato com laranjinhas da China, um artigo sobre as dificuldades inerentes a uma receita.
De vez em quando uma produtora de revista pede um cardápio para fotos. Vou protelando porque sei a trabalheira, correrias escada acima e escada abaixo, passar shoyu no pato para dourar, trocar a fatia de chocolate que suou, retirar o sorvete que derreteu.
- A luz está boa, sobe aqui neste banquinho para ver- diz o fotógrafo, e o pato que você fez está lá, longe, muito pequeno e de cabeça para baixo.
- Uhm...- resmunga a cozinheira.
Mas o fim não está próximo. Agora é preciso mandar por fax as receitas pormenorizadas, tintim por tintim.
- Não dá para dizer pegue o pato, lave o pato, asse o pato?- faço-me de inocente.
E o pior é que sei, no fundo do coração eu sei, que a única receita é esta de pegue o pato, lave o pato... Quem precisa obedecer, como você e eu, às colherinhas, gotas, salpicos, nunca encontrará a essência do pato, que ora é um ora é outro, nunca o mesmo no tempo e no espaço, nem ele nem seus ingredientes, nem nós, nem nada.
"Aburrida" pela pressão da produtora, vem a grande tentação da receita de um pato feito de impressões, de vivência do corpo, de artifícios da memória. Temos que entregar a receita ao nariz e à boca, introjetar o pato, resolvê-lo sensorialmente e só depois levá-lo direto à panela.
- Pegue um ramo de cheiros: de preferência catados na infância urbana cheia de lotes vazios com terra esburacada e esturricada, montes de areia, pedaços de tijolos quebrados, pés de mamona de folhas largas, cachimbinhos feitos do caule, um primeiro gosto de perigo, pois o lote era vazio e a mamona venenosa.
Cheiros bem perto do corpo, de algodão Bangu, rascante e permanente Toni.
Cheiro de rádio estalando, roupa limpa recém-lavada, e a empregada passando enquanto escutava a novelinha de Sarita Campos. E lá pelas cinco ou seis horas era só um cheiro de selva com o grito retumbante de Tarzan chamando as Janes em flor.
A vizinha apelidada de Natália, a italianinha, recheava o pão com azeite e alho, d. Hermínia fritava alcachofras, Judith fazia gefilte fish, Rutênio era aviador e trazia Coca-Cola com gosto de sabão Aristolino, e dos sobrados saía um cheiro de carne assada de panela.
Não faltava uma poeira quente de sol, o jogo suado de amarelinha, cheiro de borracha de pneu de bicicleta, da sua bicicleta azul, alumínio quente roçando as coxas e patins riscando o cimento áspero e afundando levemente o piche do asfalto.
Cheiro do primeiro livro-presente no bolso do pai, de couro azul-marinho, trabalhado em escamas. O melhor cheiro do mundo, o decisivo, em contraposição ao pior cheiro do mundo, um cocô de gato de estimação, perdido embaixo de um armário decisivo também para o sumiço do gato.
A mãe não tinha cheiro, não suava e usava Bois Dormant. O pai, pura loção de barba e às vezes Cuir de Russie.
O colégio cheirava a muitas camadas de tinta a óleo, massinha e giz. E a lágrimas amargas choradas e lambidas, inexplicáveis, quando o piano era sacudido nas aulas de canto por "Cachorrinho Está Latindo Lá no Fundo do Quintal". Cheiro de café com leite engolido às pressas, sanduíche de lancheira e cheiro de fundo de mala com ciscos de borracha velha e lascas de lápis apontados. Este último ressurge sempre no cominho seco das receitas.
O trem mudava o cenário, cheiro de máquina, ferro, fumaça, pó preto, metal desconjuntando, gemendo, chacoalhando, cheiro de trem que atinge o cérebro.
E aí o Rio de Janeiro, apartamento de avó, escuro, velando papinhas de maçã e leite em pó. Os primeiros bafos de maresia e lixeira de corredor.
A vastidão de Minas, craquelenta ao sol, clara, aberta. Os rios de águas claras que não se contaminam com o lodo, cheirosos frescos, adolescentes rindo em burburinhos e brincos prateados de piabas. Enroscados nas pedras os bagres, estes cheirando à terra, bigodes levemente deprimidos.
E, debaixo das mangueiras velhas, a umidade do tronco escorregadio, as folhas apodrecendo no chão, o gosto súbito de terebentina, de doce, de manchas pretas, a gosma amarela repuxando as bochechas.
E os cheiros mais fortes, os de sempre, permeando a roça, o caminho, a estrada; os cheiros de estrume, fogueira, pólvora, jasmim, fogo apagado com água jogada nas cinzas.

Estes são os ingredientes básicos do "Pato com laranjinhas da China". Passemos ao modo de fazer...