domingo, 30 de outubro de 2011

Aprendendo mais sobre abelhas e apicultura


Domingão dos bons.


Aqui em Marília nós temos a FUMARES, um centro de apoio e de assistência de pessoas que se encontram numa fase difícil da vida. Foi criado pelo saudoso prefeito Pedro Sola, na década de 70, e até hoje mantém o serviço de assistência social que é modelo e exemplo de ação eficaz, mantida pelo poder público municipal.
Uma área rural com alguns barracões individuais que acomodam desde a cozinha, a sala de treinamentos, os dormitórios coletivos, sala de TV e sala de trabalhos manuais, entre outras. Criação de porcos, estufa para hortaliças, pequena granja caipira completam o cenário, e tudo é tocado com a efetiva participação dos assistidos, fazendo os trabalhos diários, cuidando da própria alimentação, do plantio, participando de palestras e também sendo iniciados na arte da apicultura. Todas estas tarefas são parte da laborterapia, um conjunto de atividades que ajuda a equilibrar e reintegrar os assistidos, tendo como princípio básico o respeito a si mesmo, ou seja, a recuperação do amor próprio e à vida, e depois, de forma bem natural, o respeito aos próximos.
Foi lá que o Valtinho Saia, zootecnista, e membro fundador da AMAR - Associação dos Apicultores de Marília nos levou hoje para fazer mais uma capacitação no manejo das abelhas e das colméias. Aprendemos a desmembrar colméias para a ampliação do apiário e também com vistas ao melhoramento genético, buscando o fortalecimento da colméia através da renovação da rainha e a melhoria da produtividade.
Enquanto estávamos na sala de treinamento a chuva deu as caras por lá, e isso poderia comprometer a segunda parte prática. Mas nada que o pajé Valtinho não pudesse resolver, pois já havia dito que as imagens do satélite, consultadas pela manhã, davam conta da passagem da frente nebulosa sobre Marília e depois seguiria em frente.
Dito e feito. Por volta das 11 horas da manhã, devidamente equipados, nos reunimos para esta foto e seguimos para o local onde se encontram as colméias, bem debaixo de grandes pés de Calabura. Antes da palestra, o mestre Massa, deu uma rápida oficina sobre encostamento de placas de ceras nos caixilhos das caixas que seriam utilizadas para acomodar as novas famílias.
O evento foi encerrado com um belo almoço aos participantes, e o melhor, com produtos da terra e feito com o maior carinho pelos amigos da FUMARES.
Olha só a gente feliz da vida com a oportunidade de aprendizagem e encontro com os amigos.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por que os sinos não dobram mais?




Dois sinos na Capela de São Vicente 


Sino na igreja Nossa Senhora da Gloria, com a inscrição: doado por José de Goes, pelo restabelecimento da saúde do filho Manuel de Goes, 1950 


domingo, 9 de outubro de 2011

Era passar a faca no canto da pia e o gato pular do telhado

Da. Maria e o neto Cleber


Sr. Osvaldo, Da. Maria e o sócio Adolfo Teixeira
Até alguns anos passados, as pias de granilite e os pesados tanques de cimento eram comuns nas casas. Naquele tempo, faca de inox era coisa muito moderna, artigo de luxo, considerado um presentão de casamento. As facas antigas, feitas de retalhos de serrote do tipo trançador, os mesmos que derrubaram boa parte das nossas matas, eram as preferidas das donas de casa.
Bastava uma ou duas passadas no canto da pia e pronto que o corte voltava rapidinho. Não raro, o gato que estava tomando sol no telhado já pulava no terreiro e corria para a cozinha. Gato esperto sabia que som de faca na beira da pia significava que a mistura do dia era peixe e sempre sobrava uma barrigada ou a cabeça para o deleite dos felinos.
Foi assim que Maria Prates de Carvalho, conhecida como ‘dona Maria da banca do peixe’, iniciou o bate papo para nos contar um pouco da sua história. Ela tem 55 anos só de feira-livre, uma vida como ela mesma diz. E adora o que faz. Começou acompanhando o primeiro marido, o senhor Osvaldo José de Carvalho; e, desde então, não parou mais.
Pouca gente tem a mesma habilidade para limpar peixe. Sobre uma pilha de caixas de plástico e uma tábua, ela improvisa a bancada ao lado da banca e vai tirando a barrigada. Tira a escama, corta o rabo ou a cabeça, tira a espinha central, separa o peixe em duas bandas e tira até a pele, tudo ao gosto do freguês.
Dona Maria contou que quando a feira era ainda na Sampaio Vidal, as bancas de peixe ficavam bem pertinho da agência dos Correios. O número de peixeiros era bem maior, tomavam conta de um lado inteiro do quarteirão. No final da feira, a prefeitura mandava um caminhão tanque para lavar a rua e, mesmo assim, o cheiro forte de peixe continuava no dia seguinte. Entre outros feirantes, dividia espaço com dois amigos japoneses, o Sakai do pito e o Kossaka.
Nesta época, os peixes vinham do Rio Paranasão e do Rio Feio, mais precisamente de Panorama e do Salto Botelho, próximo a Lucélia, cidade onde moravam. Montados no caminhão Ford, modelo F600, saíam na madrugada do sábado com destino a Marília e voltavam só na segunda-feira. A pesca era incumbência do próprio marido e do sócio, o amigo Adolfo Teixeira, que traziam do rio os Pacus, as Jurupocas, Pintados, Dourados, a Piracanjuba, e os Barbados, vendidos aos pedaços na banca.
O gelo para conservar o pescado era comprado na Bavária e colocado em pesadas caixas de madeira. Depois, era coberto com palha de arroz para evitar o derretimento mais rápido. As caixas de isopor surgiram nesta história por volta de 1965, tornando o serviço um pouco mais leve e diminuindo o consumo de gelo.
Com a regulamentação da pesca, hoje, a banca exibe poucos exemplares da água doce. O mais comum é a sardinha, que chegou bem depois, devido ao aumento da colônia japonesa em nossa cidade, que dava preferência pela iguaria. As caixas vinham de trem, direto do porto de Santos, daí a expressão sardinha fresca.
Dona Maria conta também que já limpou, em um único domingo, mais de 100 quilos de sardinha. Haja braço e disposição. Com o passar do tempo e a facilidade dos açougues, o hábito de comer peixe diminuiu muito. Tem também esta história de que a mulher moderna não gosta de cheiro de peixe na cozinha, mas, ainda assim, a sardinha fresca é a campeã de venda. Mas tem que ser vendida limpa e lavada. É chegar em casa, jogar o tempero e fritar.
A filha, Neide José de Carvalho, é a sua fiel companheira há 34 anos. Nesta lida de montar e desmontar banca, de feira em feira, são cinco por semana, formaram uma amizade que transcende o grau de parentesco. Dona Maria diz que adora o que faz e não pretende parar de trabalhar tão cedo. Criou os filhos e viu os netos crescerem com a alegria de toda mãe, e de avó, que sabe que fez e faz o melhor por todos.
Ela tem o coração do mesmo tamanho do sorriso que distribui a todos os fregueses.

Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, coluna Raízes, em 09/10/2010



domingo, 2 de outubro de 2011

Pelo modelo do chapéu se conhecia o tamanho da boiada

Kazuko, a filha
Sr. Shinsho e esposa



Em uma destas costumeiras incursões fotográficas pela feira livre, ambiente rico em propostas culturais, cores, aromas e sons, em dado momento a banca de chapéus prendeu a atenção. Isso mesmo! Na feira, tem uma banca que vende chapéus.
As pessoas param, observam... e não resistem à tentação de experimentar alguns modelos e se mirar no espelho. O movimento não tem idade. Desde as crianças, aos de idade mais avançada, é quase que irresistível pegar um, dois, três ou mais modelos e fazer poses e olhares debaixo das abas, de palha, de lona ou de materiais sintéticos.
O chapéu já foi um complemento do traje social em tempos não tão distantes, para mulheres e para homens. No caso deles, o conjunto era completado com o paletó, de linho, os sapatos, sempre bem lustrados, e a gravata. Durante o dia, chapéus de palhinha, que podem ser de uma palha ou de duas palhas, termos utilizados para determinar a trama e o arremate no acabamento. Na sabedoria dos lavradores mais experientes, quando o sol está muito quente, usa-se colocar duas folhas de mamona por dentro da copa do chapéu para amenizar o calor. No período da noite, caía bem um chapéu de feltro, para combinar com o terno e com a ocasião, social ou mais esportiva.
Para as damas, chapéus com mais requintes de decoração e acessórios, como tules, penas, miniaturas de pássaros, flores ou pequenas joias adornando os arremates.
Nas ruas, o movimento era intenso e, ao cruzar com as pessoas, num gesto de cavalheirismo e de respeito, retirava-se o chapéu da cabeça, curvando-se levemente em direção ao interlocutor, sempre acompanhado de um bom dia ou boa tarde ou da expressão “meus respeitos”. Este ato se repetia ao passar em frente à igreja ou à capela, ou mesmo na frente do portão do cemitério, fazendo em seguida o sinal da cruz quando católicos. Não tirar o chapéu diante de uma pessoa ao cumprimentá-la era ato explícito de desrespeito.
É claro que isto não valia para os coronéis ou fazendeiros, que se davam ao direito de manter a cobertura na cabeça diante dos caboclos e serviçais. Há até uma brincadeira que diz: “Dá para conhecer o tamanho da criação de gado do fazendeiro pelo tamanho da aba do chapéu; quanto maior a aba, maior a boiada.”
Nos cinemas, nos hotéis ou nos teatros, havia as chapelarias para guardar o acessório, durante a apresentação do espetáculo ou mesmo na participação em uma conferência. Além do chapéu, era comum guardar as famosas capas de chuva dupla face e as luvas de couro. Dia destes, em viagem a São Paulo, vi que um destes hotéis mais tradicionais ainda conserva a chapelaria.
Chapelaria São Luiz
Diante deste tema tão rico, a curiosidade me levou a visitar e a conhecer a Chapelaria São Luiz. Lá, eu fui atendido pela simpática Kazuko, filha dos comerciantes pioneiros Shinsho Miyagui e Sra. Katsu Miyagui, vindos de Okinawa, província que fica ao sul do Japão, constituída por 169 ilhas.
A loja está instalada na rua Arco Verde, 252, mas o início das atividades foi na rua São Luiz, 973, onde permaneceu até o ano de 1960. Kazuko nos contou que o pai era tintureiro e reformava chapéus, utilizava uma forma especial para poder passar e engomar as abas e depois deixava no sol para secar a goma. Devido à prática na profissão, quando surgiu a oportunidade instalou a sua própria empresa no ano de 1945.
A loja na rua Arco Verde há 51 anos, ainda conserva os mesmos ares que inspiraram os pais no passado. Nas vitrines, vários modelos de chapéus para tender aos mais exigentes gostos e agora conta com a linha de chapéus femininos, novidade que atraiu uma nova clientela . Nas paredes, espelhos estrategicamente colocados, para que as pessoas possam se admirar, num momento de bem estar e bom gosto. São janelas do tempo.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 02/10/11, Caderno Revista