segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Marília navegando em altos mares

Navio MARILIA ancorado

Corredeira do Marimbondo - Rio do Peixe

Se hoje falta água, em tempos idos a cidade esbanjava
Ao rever a história da cidade, lá nos tempos da sua fundação, nos deparamos com os mapas cartográficos em que as principais referências geográficas são os rios e córregos da região. Era comum apontar que tal trecho de terra se delimitava pela distância de tantos metros do Córrego da Formiga, ao norte, mais tantos metros da água da Coruja, ao sul, e assim por diante, até que o quadrilátero referencial estivesse traçado.
Os batismos dos rios, na maioria, foram surgindo da criatividade dos desbravadores que, ao adentrarem a mata para abrir as picadas, depois de instalados os acampamentos em determinadas regiões, iam se familiarizando com as peculiaridades do entorno. Os nomes surgiam naturalmente neste universo do folclore caboclo.
Nesta hidrografia referencial, o Rio do Peixe sempre foi a espinha dorsal da região. Devido à importância da água para a agricultura e para o desenvolvimento, esse rio foi o grande responsável pelo surgimento de mais de 80 municípios. Vale lembrar que as incursões exploratórias se serviam do transporte de barcos e o Peixe sempre foi excelente opção de via de acesso.
Quem passa pelas margens das rodovias hoje e observa o seu leito, não tem a mínima noção da potência das águas deste rio. As corredeiras intensas colocavam em risco a vida dos mateiros que tinham a missão de abrir as picadas e estabelecer marcos para outros grupos que viriam abrir os loteamentos de terra, a mando do governo.
Dos afluentes do Peixe, podemos mencionar alguns córregos que são, até hoje, a referência de localização de moradia para os pequenos agricultores que ainda resistem à crescente entrada da cultura extensiva da cana de açúcar, que já rodeia Marília. São eles: Água do Barbosa, Três Lagoas, Córrego do Arrependido, que hoje é fonte de água potável para a cidade, Córrego da Fortuna, Água Mumbuca, Córrego do Pombo, Córrego do Jatobá, Água da Coruja e tantos outros.
Mas, o que pouca gente sabe é que esta ligação da história da cidade com a hidrografia chegou longe, bem mais longe do que se pensava um dia. Marília já foi nome de batismo de um navio mercante, de propriedade da empresa Ishikawajima do Brasil Estaleiros S/A. Na época, o prefeito Octávio Barreto Prado já mantinha bons relacionamentos com o governo estadual e Marília contava com grande número de agricultores e trabalhadores japoneses, nas lavouras do algodão, do café, do arroz, entre outras.
Por isso, a empresa japonesa decidiu prestar esta homenagem ao povo mariliense. O navio cargueiro MARÍLIA, foi o quarto navio de uma série de cinco unidades encomendados ao Estaleiro Ishikawajima, sendo a primeira classe de navios a serem construídos pelo estaleiro. A iniciativa foi da Comissão de Marinha Mercante Brasileira, órgão estatal que gerenciava a Marinha Mercante Nacional.
O fato ocorreu no ano de 1962, no mês do aniversário da cidade, e o lançamento do poderoso navio nas águas do oceano Atlântico ocorreu no Porto Naval do Rio de Janeiro, no estaleiro da Ponta do Caju. Foi assim que o nome da nossa cidade estampou a quilha de um belo navio mercante, levando para águas mais distantes a saga de um povo desbravador das terras da Alta Paulista.
Naquele capítulo da história, orgulhosamente, nosso querido prefeito Tatá bateu a garrafa de champanhe no casco da grande embarcação, batizando-o com o nome de Marília, e assim liberou suas amarras para ganhar outros mares.
Ivan Evangelista Jr
Membro da Comissão de Registros Históricos da Câmara Municipal e Cidade de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília, edição de 06/11, coluna Raízes






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