segunda-feira, 7 de julho de 2014

Avenida Euclides da Cunha

Rua tem árvores de grande porte
Com duas pistas, separadas por um canteiro central, esta rua sempre ganha a atenção da imprensa no final do ano, quando o presépio armado na sala da residência de número 439, da família Fagionato, inaugura a temporada de visitas até a data festiva do Natal. A tradição começou com o pai, Sr. Fernando, e continua sendo levada como profissão de fé pelos filhos Angélica, Clovis, Lourival, Lourdes, Carminha e Terezinha e pela esposa Tereza.
Neste mesmo quarteirão, está a residência do barbeiro Wenceslau Soares (Lau), construída pelo seu sogro José Guelfe. Lau foi funcionário da saúde, setor de prevenção da malária, durante 35 anos.

Colmeis no quintal - sustentabilidade na prática
Apicultor e defensor da natureza, ele mantém em sua residência mais de 20 colmeias de abelhas sem ferrão, um hobby, na verdade um bom pretexto para fazer e receber amigos. Ele se mudou para a avenida Euclides da Cunha em 1959, quando, segundo nos relatou, a rua mais parecia um picadão, uma estrada de fazenda, que muitas vezes para entrar ou sair com veículos era preciso pegar na enxada e fazer uns reparos.
Depois que a avenida passou a ter pista dupla, ele resolveu plantar mudas de flores e outras espécies ornamentais ao longo do canteiro em frente à sua residência, onde também mantém a barbearia há mais de 18 anos. A ação contagiou outros vizinhos e, em curto espaço de tempo, os quarteirões restantes ganharam novas mudas de flores e arbustos.
O detalhe é que todo paisagismo precisa ser planejado, mas, neste caso, não. Cada um trazia uma muda que ganhou de um amigo e o canteiro foi crescendo, em tamanho e altura das plantas. Quando se trata de via pública, com passagem de pedestres e trânsito intenso de veículos, todo cuidado é pouco. Ainda que belos, os jardins, em alguns pontos, impediam a visão dos veículos pelos motoristas que acessam as transversais. Com isso, o risco de acidentes tem que ser administrado de forma preventiva.
A Prefeitura promoveu a retirada das plantas e plantou grama. A avenida ficou mais aberta e mais segura. As plantas das calçadas foram conservadas, e encontramos por lá espécies bem curiosas, como, por exemplo, o amor agarradinho, pé de urucum (colorau), sempre carregado, que serve aos moradores e transeuntes, pitanga, que na época da frutificação sempre atrai muitos pássaros. Tem ainda a astrapeia, o  jasmim laranja e a quaresmeira, entre outras. Duas árvores da espécie Sibipiruna se tornaram habitat dos pássaros. Nesta época do ano, finalzinho da tarde, a sinfonia de pardais é um espetáculo à parte.
No passado, bem próximo da rua José Ferreira da Costa, limite final da avenida, ficava o campo de bola do Real Mariliense Futebol Clube, time de várzea que tinha como presidente o Valdyr Cesar (O Circo) e torcida apaixonada. Ao contar sobre as histórias da rua Wenceslau, buscou na memória: “Foi num destes jogos de domingo de manhã que eu vi uma cena muito hilária. O jogo tava no fim e o Real perdia no placar. O clima na torcida não era dos melhores e o centroavante do time adversário estava na mira dos mais exaltados, era o autor dos gols. Foi terminar a partida e o time da casa partiu pra cima do ‘carrasco’. Ele, por sua vez, correu em direção à minha casa e passou a mão no primeiro balaústre de cerca que conseguiu arrancar. Aí a coisa virou. Antes, eram onze correndo atrás de um, depois, era um, correndo atrás dos onze... salve-se quem puder”.
Nas quartas-feiras, desde meados de 1970, acontece na rua a tradicional feira-livre, com a presença dos produtores e de comerciantes que ajudam a abastecer casas da região com a venda de hortaliças e frutas. Tem ainda o tradicional pastel frito na hora, tem a banca de peixe da dona Maria, que vende sardinha limpa e espalmada, pronta para ir para a frigideira, tem vassoura caipira, café da roça, moído na hora, ovos caipiras e limão galego, ou seja, tem aquele saudosismo e tradição que sempre serviu às famílias dos bairros.
Para os moradores, se por um lado é um conforto ter a feira e a variedade de produtos frescos na porta de casa, por outro, há o incômodo de levantar-se às cinco da manhã, toda quarta-feira, para retirar os veículos da garagem. Caso contrário, só será possível utilizá-los após a desmontagem das bancas. Ao que tudo indica, a convivência é harmônica entre as partes.
No último quarteirão, está o prédio que já abrigou a sede da CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano, hoje, locado para AGU - Advocacia Geral da União - Procuradoria Seccional da União em Marília.
Ainda sobre registros de curiosidades sobre a avenida Euclides da Cunha, nós temos a residência do Guelo artista, escultor e paisagista, que fez as cascatas que enfeitam os jardins da Universidade de Marília, a Associação Espírita Alves de Abreu. Ao lado desta, temos a sede da Legião da Boa Vontade e, no quarteirão seguinte, até o ano passado, funcionava um tradicional terreiro de umbanda, retrato autêntico do sincretismo religioso brasileiro.
Olhando-se do final para o começo da via, avista-se a imponente chaminé da Matarazzo, referência do desenvolvimento da nossa indústria, preservada em sua memória e majestade, para que as gerações futuras saibam da sua história.

* Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha, engenheiro, escritor de “Os Sertões”, dentre outras obras. Foi comissionado pelo jornal “O Estado de São Paulo”, para acompanhar e descrever a Campanha de Canudos.

Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 04/05/2014

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