segunda-feira, 7 de julho de 2014

Avenida Monte Carmelo

Ao recebermos visitantes de outras cidades, amigos ou parentes, sempre surge aquela vontade de mostrar alguns pontos turísticos ou que consideramos bem legais, tudo com o propósito de apresentar um bom cartão de visitas para que eles levem a melhor imagem.
Pela sua imponência e simetria, os skylines dos edifícios sempre são pontos muito fotografados, principalmente nos finais de tarde, quando o sol está se pondo e faz aquele jogo artístico de luz e contraluz, tendo como pano de fundo as nuvens coloridas. Que o digam os céus deste período de inverno... cada pôr do sol, uma pintura.
Identifiquei já há algum tempo que um destes pontos para boas fotos é a partir da Avenida Monte Carmelo, seja próximo do Hospital de Clínicas, ou mesmo nas quadras centesimais, onde o ponto de vista é mais próximo do centro comercial. Aliás, numa linha reta, sentido bairro-centro, a Avenida Monte Carmelo se findaria no prédio da Prefeitura Municipal.
É exatamente deste ponto que se tem uma vista privilegiada do conjunto de prédios urbanos, quase que numa extensão de 180 graus, onde os prédios perfilados formam uma cordilheira de apartamentos e escritórios. Não há como negar, a maioria das pessoas tem esta paixão pelo visual simétrico das construções, que numa visão simplista e comum representa o progresso da cidade, isto sem entrar no mérito da questão. Apenas uma visão poética.
No final da avenida, número 800, está a Famema, a 10ª faculdade de medicina instalada no estado de São Paulo e 47ª do Brasil. A mudança da Famema para o prédio do Convento “Carmelo Sagrada Família de Marília” ocorreu mediante assinatura de contrato de locação do prédio do convento, firmado em outubro de 1983, com inauguração das atividades em fevereiro de 1984. Antes, a faculdade funcionava junto com o Hospital de Clínicas.
O Carmelo tem construção bem característica dos ambientes religiosos, é cheio de arcadas internas, piso de ladrilho em mosaico e tem a imagem de Nossa Senhora das Graças ainda instalada no centro do pátio interno. Foi convento de dezembro de 1963 a março de 1981.
Andei por suas instalações e ainda percebi um certo ar de nostalgia, que interage com as novas atividades. As salas, também conhecidas como celas ou clausuras, hoje abrigam setores administrativos, algumas adaptadas para centros de pesquisa e laboratórios de informática. Visitei também a organizada biblioteca, construção anexa à já existente. Foi nestas andanças que ouvi algumas histórias. Uma delas conta que, em uma das salas próximas da entrada principal, havia uma espécie de balcão onde mães que não podiam criar seus filhos recém-nascidos os deixavam na entrada para que fossem encaminhados à adoção.
A torre do sino é o ponto mais alto da construção. Por cordialidade dos administradores, tive acesso ao local, porém, faltou um pouco mais de ousadia para subir os três lances da estreita escada de madeira, original, e chegar até o topo. Era desejo fotografar o sino e identificar os registros contidos em sua face externa. Sabiam disto? Todo sino de igreja ou capela, geralmente, traz gravações em sua face externa contendo informações: o santo homenageado, a ordem à qual pertence, o nome do doador e outros dados. Fico devendo esta.
A imagem de Nossa Senhora das Graças
Um outro registro bem oportuno sobre esta edificação é apontado em artigo escrito pela Dra. Maria Regina Viegas de Almeida, médica psiquiatra, membro do corpo clínico do HEM, sob o título “Hospital...Dias”. Conta-nos a doutora em seu artigo: “Nestes sete ou oito anos, trabalhando como psiquiatra no Hospital Espírita de Marília, presenciei inúmeros pacientes chegarem até mim referindo que vieram para se internar no “Hospital Dias”, ou então para se internar no “Dias”. Ao refletir sobre isso, lembrei-me da época em que eu era residente, quando o ambulatório de psiquiatria funcionava num prédio que, no passado, havia sido um Convento de Irmãs Carmelitas, e que se situava numa avenida cujo nome era Monte Carmelo; naquela época era muito comum os pacientes dizerem que faziam tratamento no “Dr. Carmelo”, ou até mesmo no “São Carmelo”. Penso nessas expressões usadas pelos pacientes como um vínculo com alguém, só que alguém muito especial do seu passado...”
Esta menção ao artigo da Dra. Maria Regina nos leva a fazer uma reflexão sobre a importância das ruas e casas onde já moramos, como referência histórica, psíquica e social em nossas vidas, refletindo, muitas vezes, na razão direta das nossas alegrias ou tristezas. Histórias do passado que insistimos em contar, até de forma repetitiva (quem convive com idosos sabe muito bem disso) para pessoas que já ouviram estas mesmas passagens por inúmeras oportunidades. São como bálsamo para a alma, onde seus atores e autores buscam reviver aqueles momentos, resgatando sons, aromas, cenários e personagens. Ou do passado, que muitas vezes escondemos nos porões da nossa vida, temendo que episódios ou períodos negativos de nossa existência possam ressurgir a qualquer momento e nos assombrar novamente.
Você, caro leitor ou leitora, já pensou nisso? Tem boas ou más lembranças das “suas” ruas?
Foi o prefeito Armando Biava quem sancionou a Lei 1.150, de julho de 1964, passando a denominação da Avenida 2, do Bairro Fragata, para Avenida Monte Carmelo. Não por acaso.
Segundo pesquisa, na história apresentada pela bíblia, o Monte Carmelo é citado como sendo o local onde Elias desconcertou os profetas Baal, levando de novo o povo de Israel à obediência ao Senhor. Foi também no Monte Carmelo que, segundo a Bíblia, Elias fez descer fogo do céu, que consumiu por duas vezes os 50 soldados com o seu capitão, que o Rei Acazaias tinha mandado ali para prender o profeta, em virtude de ter este feito parar os seus mensageiros que iam consultar Baal: Zebube, deus de Ecrom. (2 reis 1.9 a 15).

Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 06/07/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário