domingo, 13 de julho de 2014

Avenida Vicente Ferreira


Limitada pelos vales, a cidade tende a ocupar cada espaço disponível que esteja sobre o platô da grande escarpa onde se encontra plantada a nossa querida Marília.  Aliás, este tema foi bastante discutido durante os cinco encontros para elaboração do Plano Plurianual da cidade, realizados no ano de 2013 no Espaço Cultural.

Profissionais renomados e entendidos no assunto apresentaram dados e informações que nos ajudaram a entender melhor o processo de ocupação do solo e os problemas que surgem em razão da instalação dessas áreas residenciais. Além das questões ligadas ao esgoto, rede de água e infraestrutura geral, há também uma forte discussão tramitando sobre a questão de se preservar o limite mínimo de 100 metros nas edificações que beiram os Itambés. 

A região do aeroporto, zona oeste, é o exemplo maior de que esta discussão ainda vai longe e de que novos loteamentos estão avançando em ritmo acelerado. O Portal da Serra, condomínio residencial que abriu os horizontes imobiliários para esta região, foi um marco histórico neste contexto. Depois dele, outros loteamentos planejados foram lançados e vendidos com certa margem de facilidade para os seus incorporadores.

O problema seguinte é acertar o fator mobilidade para todas estas famílias que já se mudaram ou estão construindo suas residências na referida área. A partir das 16h30, a Av. Vicente Ferreira, principal corredor de acesso à zona oeste, recebe trânsito mais intenso e mostra que se tornou estreita para acomodar a frota de veículos, mais o fluxo de pessoas, que se utilizam dos serviços e comércio instalados ao longo dos seus 1.600 metros de extensão, compreendidos entre a rua Yara, até a rotatória com a Avenida das Esmeraldas.
Com mão dupla de direção e estacionamento permitido dos dois lados da via, a situação se complica mais a cada dia que passa e requer estudos de alternativas.

O estádio Bento de Abreu Sampaio Vidal é o abre alas desta avenida e vale lembrar que a sua origem vem da fundação da Associação Atlética São Bento, em 1929. Está registrado que, no dia 20 de fevereiro do mesmo ano, aconteceu uma reunião de marilienses, entusiastas do futebol, na residência do Cel. Rodolpho Negreiros, para fundar a associação. Foi nesta reunião que o benfeitor Bento de Abreu Sampaio Vidal ofereceu o terreno, medindo 200 metros de frente por 100 metros de fundo, avaliado em cinquenta contos de réis, para ser a sede e campo do grêmio esportivo.

Até o ano de 1967, o São Bento seguiu sua trajetória, entre trancos e barrancos, comuns na administração dos clubes de futebol. Foi neste mesmo ano que o clube encerrou as suas atividades esportivas, sendo foi substituído pelo Marília Atlético Clube, o MAC, e passando a utilizar o campo de futebol doado por Bento de Abreu.

Mais adiante, está o Lar São Vicente de Paulo, criado em 20 de dezembro de 1930, tendo os trabalhos ao cargo de um grupo de católicos, coordenados pelo padre Antonio da Graça Christina. Nesta obra, novamente, vemos a mão benfeitora de Bento de Abreu Sampaio Vidal, doando área anexa à Santa Casa de Misericórdia. A pedra fundamental foi lançada em 1933, e a obra final inaugurada em julho de 1936, o que nos dá uma visão da pujança social que permeava a sociedade comprometida com as obras assistenciais. 

A Santa Casa de Misericórdia, prédio que me agrada muito pela bela fachada que apresenta, faz parte das primeiras obras de benfeitoria na cidade. Bento de Abreu, doador do terreno, sempre trabalhou de forma planejada e, antes da construção da Santa Casa, incentivou a fundação, em janeiro de 1929, da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Marília, congregando os profissionais que já atendiam em casa de saúde que ficava nas mesmas imediações do futuro complexo hospitalar. Anexo a este, estavam planejados, ainda, o Hospital Infantil “D. Maria Antonieta Sampaio Vidal Altenfelder Silva”, a Maternidade “Maria Izabel”, a Escola de Enfermagem, a Igreja Santa Izabel e o Educandário “Bento de Abreu Sampaio Vidal”.        

Seguindo na ordem crescente da numeração, chegamos até a Estação de Tratamento de Águas da Cascata, responsável pelo abastecimento da zona oeste. Foi da estação que surgiu, no ano de 1940, a ideia da construção de piscinas que servissem a população, recebendo a denominação de Yara Clube (mãe D´água), para aproveitar os mais de 40.000 litros de água utilizados na lavagem dos filtros. Além do conjunto aquático, o clube possui quadras esportivas cobertas, salão de baile, restaurante, academia de ginástica e área de lazer completa. Até o ano de 1999, foi palco dos melhores bailes de carnaval do interior paulista e, em todas as noites, formavam-se filas enormes na calçada, aguardando a abertura dos portões.

A história conta que, depois de muitas iniciativas, foi no governo de Jânio Quadros, em1957, na gestão do prefeito Dr. Argolo Ferrão, que conseguimos a aprovação na Assembleia Legislativa para a instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.  O vereador Luiz Rossi liderou uma comitiva que foi tratar do assunto com o governador, oportunidade em que recebeu a notícia de que o governo não tinha recursos para bancar a construção do prédio.

A alternativa foi recorrer a Hygino Muzzi Filho, presidente do Educandário “Dr. Bezerra de Menezes”, obra que já estava na sua fase final de construção. O pedido de empréstimo do prédio para abrigar a Faculdade foi aprovado pela diretoria, sendo providenciada a expedição de ofício declarando a cessão do prédio, ao Estado, pelo prazo mínimo de 10 anos. Em razão desta iniciativa, o governador assinou a Lei nº 3781, de 25 de janeiro de 1.957, criando a Faculdade. 

Os ventos políticos sopraram e um movimento paralelo buscou a instalação da Faculdade no prédio desativado da Fiação de Seda Maria Izabel. O mesmo foi adquirido pela prefeitura e, após a reforma e adaptação do prédio, aconteceu a inauguração em 1958.

Vicente Ferreira: voluntário de 32 e que morreu no “front” defendendo o nosso Estado.  

Fontes de pesquisa: livro “Marília, Sua Terra, Sua Gente”, de Paulo Corrêa de Lara, e arquivos da Comissão de Registros Históricos de Marília. 

Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília.

Publicado no Jornal Diário de Marília, em 13/07/2014

 

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