segunda-feira, 7 de julho de 2014

Rua 15 de Novembro

Na busca por informações para a produção dos artigos semanais publicados aqui, na nossa Revista, eu sempre procuro destacar as curiosidades e pontos que sejam interessantes, do ponto de vista histórico e turístico cultural. Fico muito feliz quando encontro pessoas que me contam histórias, mostram fotos antigas e fazem comentários que acabam enriquecendo os textos.
Aproveitando a mão de direção dos veículos, iniciei a pesquisa pelo final da rua, onde se encontra a Comasa Veículos, usados e seminovos.
Uma placa com o nome da via, instalada em frente ao prédio mencionado, ainda tem a propaganda da Antarctica.
Subindo, encontramos a Pisolejo, uma loja que, além de curiosa, é também o salva-vidas de muita gente, o Museu do Azulejo. Ao entrar no estabelecimento, temos a sensação de estar em uma galeria de artes, só que, neste caso, as telas são os revestimentos cerâmicos. Encontrar “aquele” azulejo para repor uma parede do banheiro ou da cozinha é a missão dos atenciosos comerciantes.
Descobri, também, que o salão de festas e recepções da Igreja São Miguel está quase pronto. Fruto de muito trabalho da comunidade, com promoção de festas juninas, venda de pizzas e os tradicionais bazares da pechincha, entre outras atividades para angariar fundos, o salão certamente será palco de muitas festas de casamentos e jantares.
Passamos pela garagem do Expresso Adamantina, onde até hoje os ônibus da concessionária são higienizados e inspecionados. Outro ponto de encontro tradicional de muita gente é a Casa de Sucos do Valdir, o bom baiano (E será que tem baiano que não seja bom? Duvido). O local é bem aconchegante e tem cardápios de sucos e vitaminas bem variado. Lembro do Valdir ainda na Joaquim de Abreu Sampaio Vidal, uma portinha acanhada, porém acolhedora e sempre muito visitada. Baiano não vive sem amigos, não sabe ficar quieto e gosta de prosear, enfim, o suco é a isca para cada vez fazer mais e mais amigos.
Já nas imediações do centro comercial, está o prédio do Ministério do Trabalho. Ao lado, o prédio do Departamento Regional de Saúde e, logo em frente, o Centro Espírita Luz e Verdade, fundado em setembro de 1931, e inaugurando a sede própria no atual endereço no ano de 1938. Em seu livro “Marília Sua Terra Sua Gente”, Paulo Corrêa de Lara nos relata que na inauguração do centro o espírita Hygino Muzzi Filho, por intermédio do Dr. Antonio Pereira Manhães, lançou a ideia de um hospital para doentes mentais, sob a denominação de Hospital Espírita Deus, mais tarde mudado para Hospital Espírita de Marília.
Adiante, encontramos uma das bicicletarias mais antigas da cidade, a Ciclomar, que antes funcionou por anos na avenida Sampaio Vidal, de tradicional família nipônica da cidade. Neste trecho, houve algumas transformações e reformas de prédios que revitalizaram o quarteirão. Destaque para a tradicional Peixaria Sakai, até hoje com atendimento familiar e servindo pescados da melhor qualidade.
Logo em frente à peixaria, está a residência de número 948, que por coincidência é de outra família japonesa e que também tem o sobrenome Sakai. No alto da fachada do sobrado, está o emblema da família que certamente guarda os valores essenciais. Aprendi, ainda, que “Sakai” deriva de saquê, bebida alcoólica feita de arroz, como também significa terra de montes e relevos.
Seguindo sentido ao início da rua, encontramos a empresa jornalística Jornal da Manhã, e logo adiante, o nosso Mercadão, hoje um dos centros de compra mais visitados da cidade. Tradicionalmente, no passado, foi ponto de comercialização de produtos agrícolas e de pescados, sendo a grande maioria das bancas de propriedade de nipônicos, salvo engano, membros da comunidade Okinawa de Marília.
Hoje tem variedade de gastronomia, passando pelo incomparável pastel de ovo, da pastelaria da família Hirata, tem churrascaria, loja de comidas e acessórios japoneses, comércio de ervas aromáticas e medicamentosas, peixes ornamentais, floricultura, loja vintage de discos e revistas e ainda um empório. Na frente do Mercadão está o prédio da Junta de Serviço Militar, área de segurança nacional.
Bira e os brinquedos feitos com material reciclado
Mas a surpresa maior veio mesmo foi no primeiro quarteirão, na casa de número 20, onde mora o Bira dos Brinquedos. Na garagem, encontramos algumas prateleiras com mostruário de sua arte reciclada. O Bira é filho de família circense, e seu pai, Sr. Ubirajara Elias, foi proprietário do circo Rodeio Soberano.
Por conta disso, Bira rodou boa parte da América do Sul, contou que foi palhaço até os 12 anos de idade e depois de passar por Cuba, Bolívia, Peru, Guatemala, entre outros, retornou a Marília por volta de 1995. Das madeiras que resgata de caçambas e descartes de empresas da cidade, nascem os brinquedos. São as patrolas, cavalinhos de madeira, bonecos, caminhões e fantoches de palhaços, os títeres, que na tradução significam marionetes. Ao falar dos brinquedos é notório que ele continua um palhaço de alma.
A casa onde moram os pais é de madeira, simples e aconchegante, dá a impressão que tem sempre um canto pronto para receber a visita. A oficina artesanal acaba sendo uma extensão dos cômodos, sem luxo, porém, com uma energia de bem-estar e acolhida que faz inveja aos melhores hotéis da cidade. A mãe, dona Elsa de Jesus, mineira, ainda cozinha em fogão a lenha e nas panelas de barro que não larga nem por promessa.
É assim que, nestes dias de frio, quem passar pela esquina da rua 15 de Novembro com a Presidente Vargas vai notar uma casinha com chaminé soltando fumaça branca. Ali, parece que o tempo parou, dá a impressão boa que voltamos nos anos e que a qualquer momento dona Elsa sairá pela porta da sala, com lenço branco amarrado sobre os cabelos, avental na cintura e nas mãos, um prato de bolinho de chuva coberto com canela, dizendo: “Entra, vem tomá um café com a gente”.



Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário de Marília em 01/06/14

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