terça-feira, 19 de agosto de 2014

A avenida João Ramalho

Início da João Rmalho
No seminário sobre planejamento de cidades, realizado pela Prefeitura Municipal, em 2013, com vistas à elaboração da nova Lei de Zoneamento Urbano, aprendi que as vias mais largas são como as artérias do corpo humano. Elas levam o fluxo mais intenso, neste caso, levam todo o movimento de veículos, de motos e transeuntes, até as artérias menores, que vão distribuir e “irrigar” os bairros adjacentes.
Aprendi ainda que, nas artérias, devem se concentrar o comércio e a prestação de serviços, poupando estas áreas da construção de casas e prédios residenciais. Estes últimos devem se concentrar na terceira linha, depois das instalações dos serviços públicos em geral.
Para a produção destes artigos semanais sempre faço as “visitas de campo”, pois é assim que consigo sentir o clima da rua, observar pessoas e hábitos que são comuns àquele espaço. Cada bairro tem um ritmo, cada bairro tem sua música, cada bairro tem seu cheiro, e o conjunto de todos estes itens formam o que eu chamo do “clima do bairro”.
A João Ramalho tem início na rotatória do Kieza, onde está o grande mastro com a bandeira de Marília, seguindo calma sentido bairro, passando sob a rodovia SP 294, onde logo em seguida estão o Supermercado Amigão e o Posto Jardim Guarujá. Alguns dos leitores vão lembrar que, nesta mesma área, ficava a sede do clube social da Associação dos Motoristas da Alta Paulista.
Visitei a praça que fica em frente à instituição filantrópica Amelie Boudet. Seguindo as informações no local, seria a Praça Amelie Boudet. Mas não é. O Decreto Municipal 5.103, de março/ 86, dá a denominação de “Praça João Neves Camargo”. Tem boa variedade de plantas, um misto de jardim com pomar. Tem pé de manga, de caju, de pitanga, de romã, limão cravo e goiabeira, e tem também as Espirradeiras, Pata de Vaca, o Chorão, Quaresmeiras e outras espécies de flores. A praça está bem cuidada, bem iluminada, permitindo a presença das pessoas, com segurança, mesmo no período noturno.
Igreja Guadlupe
O belo prédio da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, com janelas em forma de arcadas, é o cartão de visitas da Zona Sul, aliando a beleza da sua arquitetura com a do prédio onde se encontra instalado o Centro de Atendimento ao Trabalhador “Lázaro Ramos Novaes” - o Sesi de Marília. Este conjunto concentra, além da praça de esportes, da quadra coberta e do parque aquático, salas de aulas para cursos de qualificação profissional. Inaugurado em 1986 é modelo de conjunto de serviços voltados para a comunidade, reunindo em um mesmo local: a educação, a assistência social, o lazer, o atendimento à saúde do trabalhador, além de teatro com capacidade para 200 pessoas, local de grandes espetáculos, em plena sintonia com os melhores eventos da capital paulista.
Mas é da esquina com a Avenida Men de Sá em diante que a João Ramalho ganha um vigor de fazer inveja. Originalmente, era uma rua de residências populares, isto lá pelos idos dos anos 80, quando o bairro Nova Marília foi inaugurado. Uma parede quebrada aqui, um ajuste ali, a garagem que ganhou porta de Blindex... e pronto, começaram a nascer os pequenos comércios para atender a comunidade local. Geralmente, armarinhos e confecções, ou brechós, que após um período de experiência no comércio de usados decidiram partir para uma loja mais moderna e convidativa. Ainda hoje, tem muitas destas lojas por lá.
Mas tem também agências do Banco do Brasil, do Itaú, do Bradesco e da Caixa Econômica Federal, uma grande loja do Supermercado Kawakami, esta última associada a um pequeno conjunto de lojas e serviços, que acabou se tornando o ponto de encontro do bairro. Foi esta concentração de comércio e de famílias de trabalhadores que levou os bancos a decidir pela presença física na João Ramalho. Ditado popular é sábio: “se tem bancos, é porque corre dinheiro”, tanto que duas destas agências mencionadas fizeram questão de montar estruturas de atendimento nos mesmos padrões do principal centro comercial da cidade.
centro de negócios
Ao longo da via, contabilizei pizzarias, farmácias, lojas de materiais de construção, consultórios odontológicos, lojas de móveis, acessórios para veículos, postos de combustíveis, bares, garaparia, academias de ginástica e, salvo engano, sete igrejas, sendo estas de religiões diversas. E, já que estamos falando de empreendedorismo, chamou a atenção o fato de que uma destas igrejas, instalada em dois prédios anexos, oferece as instalações para festas de casamento, de aniversários, para encontros empresariais, convenções e eventos sociais em geral. A direção promoveu a união do útil ao agradável e otimizou a utilização do espaço, certamente, buscando o equilíbrio financeiro.
E, assim, vigorosa, a João Ramalho segue até a rotatória com a Durval de Menezes, caminho para o Sest-Senat, para o conjunto dos comerciários, e para a estrada velha para Nova Colúmbia, ou melhor,  Nova Colômbia, porque foi fundada pela família Colombo.
É nas calçadas, nas portas das lojas e nas mesinhas postas em frente aos bares, restaurantes e lanchonetes que vemos o retrato real da nossa gente; um povo feliz, que vive a vida, e mesmo que alguns tenham pouco ou nenhum dinheiro no bolso, eles expressam a felicidade no seu sentido filosófico mais simples. A vida pulsa nos bairros.
João Ramalho: Aventureiro navegante e explorador português, naufragou na costa da futura Capitania de São Vicente, hoje estado de São Paulo. Depois de se embrenhar nas matas, foi encontrado pela tribo dos Guaianases. Mais adiante na história, casou-se com Bartira, filha do cacique Tibiriçá, batizada Isabel Dias. O casamento foi realizado pelo padre Manuel da Nóbrega. Tiveram nove filhos. Mas conta a história que João Ramalho teve filhos também com outras índias, já que a cultura nativa assim o permitia, e também porque ele queria agradar os demais caciques e estabelecer boas relações. Diante dos relatos, vemos que o fenômeno da globalização não é coisa deste século.

Publicado no Jornal Diário de Marília, em 17/08/2014

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