sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Avenida Santo Antônio e o Marco Zero de Marília


Se pudéssemos voltar ao passado e participar do planejamento da cidade, um dos principais requisitos de acessibilidade e mobilidade seria o de que toda via longitudinal extensa, deveria ter, no mínimo, a mesma configuração da Avenida Santo Antônio. Seu traçado tem início na Rua Presidente Vargas, e seguia até o encontro com a Manoel Muller, logo abaixo da rotatória onde está a capela Maria Mãe de Deus. Porém, com a criação do Jardim Aquárius, a avenida se estendeu até a Rua Dr. Timo Bruno Beluce e figura entre as mais extensas da cidade.
Com muitos prédios residenciais instalados nas quadras iniciais, a avenida, que homenageia o santo padroeiro e os fundadores Antônio Pereira e Pereirinha, tem como seu maior ícone a Igreja Matriz de Santo Antônio. 
Construção imponente e de fundamental importância para história da cidade, a atual igreja substituiu a primeira capela erguida pelos pioneiros e fundadores do município, Antônio Pereira da Silva e seu filho José Pereira da Silva. A inauguração do santuário se deu em dezembro de 1924. Seguindo os registros históricos, a praça da igreja de Santo Antônio pode ser considerada o “Marco Zero” da cidade, pois foi a partir do espigão que surgiram os traçados das primeiras ruas.
Pereira e Pereirinha foram os responsáveis pela encomenda ao engenheiro Francisco Schmidt, que trabalhava para a Companhia Agrícola e Pecuária de Campos Novos, do “Plano Xadrez”, o primeiro plano de loteamento da história da cidade, com ruas de 12 metros de largura, quarteirões de 88 metros por 88 metros, divididos em 10 datas, sendo 8 de 22 por 33 metros, e 2 de 22 por 44 metros. Foi reservada uma quadra para a Igreja Santo Antônio, e o loteamento ganhou o nome de “Alto Cafezal”, em homenagem à exuberância dos cafezais plantados em áreas próximas desta região.
No quarteirão 700, ainda está em atividade a antiga "Creche Dona Nhanhã", instalada em Marília em 1949, por iniciativa de Da. Olívia Cândida de Almeida, viúva do Cel. Galdino Alfredo de Almeida, em homenagem ao marido falecido e proprietário da Fazenda Bonfim. No terreno de número 766, funcionou o 2º Grupo Escolar, e foi adquirido para ampliar as instalações da creche que passou a denominar-se "Lar da Criança", abrigando apenas menores do sexo feminino inicialmente. Faço um parêntese aqui para registrar a benemerência de cidadãos e cidadãs, que marcou a história da cidade até certo período, com doações e aquisições de áreas para a criação de entidades assistenciais que perduram até os dias atuais.
O Grupo Escolar Gabriel Monteiro da Silva é outro marco da avenida e, certamente, faz parte da história de muitos marilienses que tiveram a oportunidade de frequentar as aulas em suas dependências. É uma escola organizada, bonita, tem direção pedagógica competente e também é sede de votação nos pleitos eleitorais.
Seguindo no sentido crescente da numeração, encontramos um charmoso conjunto de casas de madeira no quarteirão 1.500. Muito bem conservadas, são o registro de uma época em que a as serrarias eram as principais fornecedoras de material de construção para a criação e instalação de novos bairros. Há modelos que vão dos mais simples, ou de "pouco acabamento", como eram chamados, até aquelas residências que têm adornos artísticos, com fachadas recortadas, pontas de vigas em forma de "peito de pomba" ou "cabeça de cavalo”, e as emendas de madeira que levam o nome de "mão amiga". Todos estes detalhes eram discutidos no momento de se elaborar o orçamento da futura morada.
Não deixe de observar os Manacás, em plena florada, na residência localizada ao lado direito, sentido centro-bairro, logo após a esquina com a Rua Dr. Joaquim de Abreu Sampaio Vidal. Um capricho de jardim. 
Na esquina da avenida com a Rua Benjamin Pereira de Souza, localiza-se o Departamento de Água e Esgoto de Marília - DAEM, onde estão os serviços de manutenção e controle da frota de veículos, de atendimento à solicitações de reparos e novas ligações de água e esgoto. No terreno, dois tanques subterrâneos de armazenamento de água potável, com capacidade de 4 milhões de litros, são alimentados pelo "Sistema Peixe".
vista interna do ginásio
Ao lado do DAEM, está o prédio da Delegacia Seccional de Polícia, e na baixada, próximo da escola Baltazar e do antigo CEASA, o vistoso prédio do novo mais novo ginásio de esportes de Marília.
Mais um fato curioso sobre a avenida: ao longo da via, são mais de 40 garagens de intermediação de compra e venda de veículos, sendo que alguns quarteirões concentram até seis empreendimentos deste segmento. É interessante notar como um determinado ramo de negócio acaba sendo atraído para uma mesma via e a transforma numa grande "feira de usados" no meio urbano. Considerando que cada garagem pode ter de 30 a 50 veículos, em média, temos uma noção do volume de negócios que movimentam na economia local. E vale comentar sobre a gíria, própria do ramo, que marca as conversas e negociações entre compradores e vendedores: "Arma de Fogo" - carro cheio de defeitos, velho; "Casamento" - carro que encalhou na venda, "Filezinho"; argumento muito utilizado para dizer que o negócio é dos bons; "Carro de professora", veículo com pouco uso, sugere boa procedência; "Mosca Branca", aquele que todo mundo quer; "Dar um talento ou carioca", ajeitar o veículo para venda, polir, cuidar dos detalhes, "Bem calçado", tem bom conjunto de pneus; e para a frequente pergunta: quantos quilômetros está o veículo? O vendedor responde - Com quantos você quer que ele esteja?
É por estas e por outras que a nossa cidade é um local muito especial para se viver e passear. Ruas e avenidas guardam histórias e personagens que dão sabor à vida. 

Ivan Evangelista Jr. é membro da Comissão de Registros Históricos de Marília.
Publicado no Jornal Diário de Marília em 27/07/2014

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