terça-feira, 16 de setembro de 2014

Ruas com nomes indígenas em Marília


Cada vez mais os recursos tecnológicos nos cativam. A cada dia, mais pessoas estão conectadas e introvertidas em seus mundos semivirtuais e, ao mesmo tempo, mais conectadas com uma imensidão de pessoas. Um contrassenso que vem merecendo estudos das mais variadas áreas, inclusive da psicologia e da sociologia, com o objetivo de tentar entender melhor este cidadão, plugado em tudo, porém, na maior parte do tempo, desconectado daquilo que está ao seu redor mais próximo. 
E não podemos negar que o mundo digital é muito atrativo. Com alguns programas instalados no celular, e com a devida permissão do usuário para que seja acompanhado em tempo real nos deslocamentos, ao final do dia, é possível obter um mapa das suas andanças. E, mais, o programa ainda agrega informações interessantes, sobre ruas e locais onde esteve, entregando, sem que você tenha solicitado, um pequeno filme da sua última viagem, dos locais visitados e da importância histórica e cultural destes locais.
Em recente viagem ao Rio de Janeiro, na companhia do Dr. Luiz Carlos de Macedo Soares, reitor do Univem, onde participamos do 3º Encontro de Reitores Santander Universia, me surpreendi quando o mister Google me presenteou com um filme contendo toda a trajetória, desde a partida, até o retorno para Marília, anexando as fotos que fiz com o meu celular durante o evento, e de pontos turísticos visitados. E ainda sugeriu e comentou outros pontos não visitados que estavam próximos de locais onde estivemos.
Para não correr o risco de perder as minhas fotos, mais o filme, o Google salva tudo lá na Nuvem, e eu posso buscar, sempre que desejar rever momentos ou mostrar aos amigos. Lembrando o seriado da dupla justiceira, na fala do menino prodígio Robin: "Santa Tecnologia, Batman!".
E não tenho dúvidas de que a nossa coluna Raízes, publicada regularmente aos domingos no Jornal Diário de Marília, já está devidamente indexada e catalogada na Nuvem, para também ser fonte de consulta do "grande sistema", permitindo que muitas histórias sejam contadas e enriquecidas com os registros e informações organizadas em forma de texto e ilustradas com imagens.
Quando alguém estiver navegando na Internet e pesquisando sobre a cultura indígena em Marília, vai descobrir que, no bairro Salgado Filho, existe um conjunto de ruas que homenageiam as tribos indígenas brasileiras. São elas: Coroados (cabelo cortado em forma de coroa), Carajás (Karajás - coisa ruim), Carijós (mestiço), Coroás (Koroás - veneno para matar peixes), Corumbis, Bororós (pátio da aldeia), Aimorés (botucudos), Tupã (deus da luz), Caiçara (vive da pesca) e Tabajara (senhor da aldeia) .
As ruas estão localizadas na região onde antes era a Fazenda Bonfim, nas costas do Marília Tênis Clube, chegando aos altos das proximidades com o Cemitério da Saudade. Apesar de sua fundação estar registrada na história em fevereiro de 1930, o Tênis, como é mais conhecido, passou por vários endereços antes de chegar à Avenida Rio Branco, fato consumado em maio de 1961.
Mencionamos o Tênis Clube porque foi a Sra. Olívia Cândida de Almeida a grande idealizadora do loteamento Salgado Filho, conforme Lei nº 429, de 30 de outubro de 1953, que autorizou a Prefeitura Municipal a receber a área por doação pura e simples. Na planta aprovada do loteamento, processo nº 1.352/53, além das vias já mencionadas, constam ainda a Rua Cel. José Braz, a Avenida Rio Branco e a Rua Guanás, e incorporando parte da área ao patrimônio do Tênis Clube.
Na pesquisa de campo, identifiquei uma quebra na sequência das paralelas. Entre as ruas Corumbís e a Bororós, antes, havia a Rua Pirajá (viveiro de peixes). Com a ajuda e pesquisa do companheiro na Comissão de Registros Históricos, Paulo Colombera, diretor da Câmara Municipal de Marília, resgatei que, por iniciativa do então prefeito Domingos Alcalde, pela Lei nº 3429, de junho de 1989, a Câmara Municipal aprovou a sua solicitação para a mudança de nome, passando a denominar-se Dr. Cesar de Almeida Pirajá, médico, soldado constitucionalista, falecido em agosto de 1949.
Percebi, durante as pesquisas para a produção do presente artigo, principalmente na tradução das palavras indígenas, uma variação de escrita que alterna as letras C e K, como por exemplo a palavra Karajás. Isto se deve ao fato de que os primeiros pesquisadores que produziram registros sobre as diferentes etnias foram antropólogos alemães. Com o passar do tempo, houve o "abrasileiramento" da ortografia, passando a escrever com a letra C no início. Dentre os documentos encontrados no vasto mundo digital, menciono: "A contribuição Alemã à Linguística e Antropologia dos índios do Brasil, especialmente da Amazônia" e o livro "O Viajante Hércules Florence; águas, guanás e guaranás", Days Peixoto Fonseca, editora Pontes, com relatos da expedição Langsdorff.
Uma coisa é certa: entrar neste mundo da pesquisa para produzir os textos dominicais tem me proporcionado alguns bons momentos de imersão na história, não somente da nossa cidade, mas da nossa cultura e do povo brasileiro. Ao escrever, registramos uma nova memória temporal, partilhamos conhecimentos com os leitores e internautas,  especialmente professores e alunos das nossas escolas, por meio de um olhar que consiga traduzir o contexto histórico e o atual.  Fica a dica sobre o livro mencionado acima "O Viajante", com relatos da expedição realizada entre os anos 1825 e 1829, para a produção de registros e relatórios sobre a paisagem brasileira e a sua gente.

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