domingo, 12 de outubro de 2014

A Rua 16 de Setembro

Venho notando que os nossos encontros dominicais estão sendo muito produtivos, tanto para o autor destas crônicas, como para os leitores amigos. É sempre bom mergulhar no tempo, conhecer-se melhor, saber das nossas raízes e das histórias que permeiam ruas e bairros da nossa querida cidade.
Já comentei em outra oportunidade que há pessoas que passam metade da vida, ou até mesmo a vida toda, morando em um determinado endereço, sem nunca se preocupar em saber mais sobre um dos seus principais referenciais de vida. Já perceberam que, na maioria dos nossos contatos, nos contratos, nas compras ou cadastros, o nome da rua em que moramos é sempre solicitado?
Ainda bem que as escolas estão trabalhando o tema com os alunos. Assim, a identidade de cidadania, do pertencer ao meio, vai crescendo na mesma proporção que a cidade. Contar a história para os jovens e as crianças é compartilhar valores, é  incutir o sentimento do respeito e da cidadania. Digo isso porque me entristece muito ver as pichações em patrimônios públicos ou nas fachadas do comércio e das residências.
 E, por solicitação de um amigo, lá fomos nós em busca das origens da Rua 16 de Setembro, localizada em frente ao Tiro de Guerra, no bairro Palmital, prolongamento. Mais uma vez, encontramos na história as mãos do  benfeitor Bento de Abreu Sampaio Vidal Filho. Segundo a Lei nº 915, de 6 dezembro de 1960, na gestão do prefeito Octávio Barreto Prado, por meio de doação pura e simples, Bento de Abreu e outros cederam área para o prolongamento do bairro, nos chamados subúrbios da cidade.
Um  parêntesis: "Originalmente, existiam os burgos, que eram as áreas dentro dos muros das cidades, as áreas fora dos muros passaram a ser conhecidas como subúrbios. Com o fim das cidades cercadas de muros, a área conhecida como subúrbio passou a ser a periferia dos centros urbanos”.
Na primeira edição, a Rua 16 de Setembro aparece com 14 metros de largura e 214,32 metros de extensão, a partir da Rua Pedro de Toledo, até 32 metros além do eixo da Rua Washington Luiz. Mais adiante na história, encontramos a Lei nº 1134, de 28 de abril de 1964, na gestão do prefeito Armando Biava, na qual a Rua 16 de Setembro é novamente mencionada. A partir desta data, a rua passou a ter 260 metros de extensão. É a cidade crescendo, abrindo espaços para mais casas e mais comércio.
E ela volta a ser alvo na Lei nº 4292, de 8 de julho de 1997, quando é espichada novamente até a Rua João Batista Rafael, na administração de Abelardo Camarinha.
Mas a pergunta ainda não foi respondida - por que Rua 16 de Setembro? Encontramos a resposta no livro “Marília - sua Terra, Sua Gente, de Paulo Corrêa de Lara.
A Comarca de Marília foi instalada em 16 de setembro de 1933, criada pelo Decreto nº 5.956, de 27 de junho de 1933, do então interventor federal General Waldomiro de Lima. O historiador nos conta que foi buscar esta informação em outro livro, que tem por título “Marília”, autoria do professor Glycério Póvoas.
Para entender melhor a importância da data histórica, voltamos aos tempos do patrimônio, do latim Patrimonium: “patri” (pai), e “monium” (recebido, herança). Ou seja, relendo a história, vemos pai e filho traçando as primeiras ruas, lá nos altos da igreja de Santo Antônio. Visto desta forma, o Patrimônio do Alto Cafezal é uma herança da atitude promissora de ocupação e comercialização das terras pelos fundadores Pereira e Pereirinha.
Mais adiante, quando o patrimônio já tem porte para se transformar em cidade, recebe de Bento de Abreu Sampaio Vidal o nome de Marília.
E a Comarca... porque é tão importante? Podemos dizer que Comarca é um status, uma condição que dá ao município o privilégio de ter juiz e promotor, sem a qual a cidade ficaria à mercê de outras instâncias. Governar é como um jogo de xadrez: vamos movimentando as peças no sentido de ocupar territórios, de crescer, de dotar a cidade de uma estrutura que favoreça o desenvolvimento em todas as instâncias.
Fazendo uma comparação, a Comarca estava para Marília, nos anos 30, assim como hoje está a ampliação do aeroporto “Frank Miloye Milenkovich”. Ou fazemos ou não temos logística de transporte de cargas e passageiros. E está acontecendo.
Resgato a história e volto ao período em que João Barion Jr., então diretor do CIESP, ergueu bandeira e liderou o movimento “Duplicação, Já”, exigindo a duplicação do trecho Marília - Bauru, da SP 294.
Lembro que somamos esforços com a Associação Comercial, Senac, Sesi e Sebrae, órgãos representantes de instituições da cidade ligadas ao setor empresarial, que formavam o GEAD - Grupo Empresarial de Apoio ao Desenvolvimento, e fizemos acontecer. Congestionamos a rodovia nas proximidades do trevo de Garça, levamos caminhões, muitos caminhões e, dentro da ordem, chamamos a atenção da imprensa nacional e do governo estadual.
De Comarca, aos dias atuais, fica clara a importância da união de todos em torno de objetivos comuns. Marília, cidade bela!

Ivan Evangelista Jr.
Membro da Comissão de Registros Históricos de Marília
Publicado no Jornal Diário De Marília, edição de 28/09/14

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