segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Rua Oscar Leopoldino da Silva


As visitas na casa de parentes e amigos, nos finais de semana, são um hábito antigo e comum. Seja pela amizade, pelos laços de parentescos ou mesmo pela necessidade implícita de socializar-se com outros grupos, o fato é que o final de semana vai chegando e os planos começam a ser traçados. Destas visitas, principalmente entre as classes mais populares, surgiu o termo "juntar panelas", que nada mais é do que duas ou mais famílias se confraternizarem, tendo como forte apelo a gastronomia.

De um lado, tem aquela vovó, que cozinha maravilhosamente bem e faz frango ensopado especial, do outro, a norinha, que está chegando agora no novo núcleo familiar, e para agradar a futura sogra propõe fazer uma maionese com ervas aromáticas. A cunhada, especialista em arroz soltinho, dá o grito: "O arroz com carne seca é por minha conta". E o cardápio especial vai ganhando temperos.

Tudo desculpa, a gente bem sabe disso. O que todos querem mesmo é estar junto, com muita contação de causos e de piadas, ouvir música e algazarra de criança brincando pela casa, gente esparramada nos sofás e nas redes. Depois vem aquela sobremesa especial, um pirex enorme de gelatina colorida, ou salada de fruta com sorvete, e se tiver aniversário no grupo, bolo, com direito a velinha e parabéns... e o cafezinho.    

Oscar Leopoldino, esquina com Alfeu Cesar
Vida simples. Foi assim em boa parte da minha infância. Meus pais gostavam de receber e de fazer visitas. Dos amigos, lembro da casa da Sra. Maria Lima e do Sr. Ildo, que moravam em um chácara, nas proximidades da Rua Oscar Leopoldino da Silva. Muita fruta no quintal, galinhas caipiras, parreiras de uva, goiaba e cana de fazer garapa. Sempre havia um motivo para se reunirem; às vezes para colher as uvas que estavam no ponto, ou para fazer pamonha e curau, pois o cabelo das espigas já estava começando a secar, fazer doce de abobora cristalizado ou doce de leite.

Na esquina com a Rua Alfeu Cesar Pedrosa, onde até hoje tem o Bar da Curva, havia uma chácara, tocada por uma família de japoneses, que plantava flores. Minha mãe Geni, acompanhada da Dona Maria, comprava lá os copos de leite para enfeitar o altar da igreja Nossa Senhora de Fátima. Aproveitavam a visita e já traziam cravos, margaridas e o tradicional mosquitinho branco, para enfeitar a mesa e a sala da aconchegante casa de madeira.

Voltei na Oscar Leopoldino para fotografar a antiga chácara. O local está cercado e tem placa da prefeitura de "Proibido Jogar Lixo". Mesmo assim, tem muito lixo jogado sob a pequena ponte. A casinha, branca e azul, tem ares de abandonada, mas ainda restam muitas flores espalhadas pelo terreno. As sementes ficaram, mesmo com o passar dos anos e o abandono. A vida renasce e parece insistir em resgatar e contar histórias do passado.



Ladeira na Oscar Leopoldino
Nas imediações, há uma certa concentração de edifícios de pequeno porte, e dependendo do ângulo que se observa a paisagem, há momentos em que as retículas das fachadas nos remetem aos subúrbios paulistanos, com ladeiras e varandas coloridas por lençóis e toalhas que balançam ao vento.

A numeração vai crescendo no sentido da Av. Sampaio Vidal, onde na esquina está o edifício Primavera. Construção portentosa, com apartamentos de 200 metros. Procurando um bom enquadramento para fazer uma das fotos de ilustração deste artigo. Ao fechar o ângulo, me dei conta de que as curvas das fachadas são parecidas com a do Edifício Copam.

Na esquina com a Rua São Leopoldo, há um prédio de construção enigmática, com uma grande lancha na garagem, suspensa por fortes correntes e estrutura de ferro condizente ao peso e tamanho. É o abre alas de toda a paisagem que se esparrama ao fundo, vista ampla da zona sul da cidade, dos condomínios populares, não sem antes passar os olhos pelos verdes vales e os paredões dos Itambés. Na lista de pontos estratégicos para se fazer bons registros urbanos, não resta dúvida de que esta esquina é um deles.

A Rua Oscar Leopoldino da Silva atravessa a Av. Santo Antônio e chega nos limites da antiga Fazenda Bonfim, finalizando na Rua José Rocha. Além das curiosidades aqui mencionadas, a via tem vários barzinhos que, nos finais de tarde, sempre estão cheios. É a turma do pincel, da funilaria, das reformas e das construções, gente que pega no batente pesado e no final da tarde vai discutir as falhas do juiz na arbitragem do jogo de domingo, falar de política e consertar o Brasil, cada um do seu jeito, mas todos ali, juntos.

Sobre o patrono da rua, encontramos as seguintes informações nos escritos do historiador Paulo Corrêa de Lara. "Foi um dos primeiros escreventes do Cartório de Paz e Registro Civil de Marília. Nasceu em Cajuru-SP, em 30 de dezembro de 1886, e faleceu em Marília em 22 de fevereiro de 1957. Teria vindo para a nossa cidade em fins de 1927, colocando-se no Cartório recém instalado. Quando da criação da Comarca, passou para o Cartório de 1º Ofício e Notas, no qual permaneceu até a sua aposentadoria. Por ocasião da Guerra Européia (1914/18), serviu na França como voluntário."
 
Publicado no Diário de Marília, em 30/11/14

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