sexta-feira, 24 de julho de 2015

A pendenga entre Bento de Abreu e Pereirinha

Parte do desenho geográfico das ruas da nossa querida Marília foi concebido pelo engenheiro dr. Durval de Menezes, projetado no sistema “Xadrez”, com ruas de largura de 16 metros e quarteirões de 100 por 100 metros, divididos em lotes de 40 metros, fato que levou a ser conhecido como “O Plano Xadrez”. O projeto do loteamento foi encomendado por Bento de Abreu Sampaio Vidal, ao engenheiro acima mencionado, a partir da compra da Fazenda Cincinatina, com o objetivo de estruturar o mapa dos lotes e iniciar as vendas.
Vale resgatar que antes deste episódio já estava instalado o loteamento do “Alto Cafezal”, sendo este de iniciativa dos pioneiros Pereira e Pereirinha. Consta dos registros históricos que havia um pensamento de dar continuidade ao traçado das ruas do novo loteamento, aproveitando as ruas já esboçadas ou existentes no Patrimônio dos Pereira.
Mas consta também que a necessidade maior era reservar área, no espigão, para a passagem da linha férrea, que vinha avançando desde a cidade de Piratininga, ou seja, preparar o terreno para a chegada do progresso puxado pelas locomotivas. 
Tem outro detalhe curioso na história - para dar continuidade ao traçado já existente, o engenheiro Durval de Menezes, batia as estacas como balizamento e ponto de origem do novo traçado, seguindo as ruas dos Pereira, porém, ato contínuo, os responsáveis pelo loteamento Alto Cafezal arrancavam as estacas e o serviço era perdido. Essa pendenga entre os Pereira e Bento de Abreu, foi motivo de carta do Sr. Bento de Abreu, relatando os fatos e pedindo providências do Sr. Pereira, segundo consta, carta que está exposta no Museu Municipal da cidade.


Diante do impasse e da imperiosa necessidade de continuidade dos trabalhos e ainda resguardar uma longitudinal para acolher os trilhos, o “casamento” dos projetos foi preterido e cada um seguiu o seu caminho. Daí, entre outras, a Rua Bahia, não ter continuidade com a Rua Cel. Galdino de Almeida, a rua Maranhão, terminar na Rua Sampaio Vidal, onde também começa a Rua Dom Pedro, e a Rua Nove de Julho, esta sim, ter a continuidade entre os dois lados, porém com uma bela curva bem na região central. 
Resposta sobre o assunto para um repórter 
No passado, trilhos no centro da cidade, sinônimo de progresso, no presente, na verdade desde 1960, trilhos e passagem de trens, de carga ou de passageiros, já significavam problemas das mais variadas ordens. Ao fazer uma pesquisa nos jornais de época encontramos várias notícias de atropelamentos com vítimas fatais, notas sobre a fila de espera prolongada dos veículos que circulavam pelas ruas. Explico.
Os trens de carga eram imensos e geralmente vinham carregados de grãos, de madeira ou de gado, oriundo da cidade de Panorama. Quando chegavam em Marília, era preciso fazer a manutenção, as manobras e a troca de locomotivas. Alguns destes comboios, fechavam, ao mesmo tempo, a passagem da Rua Nelson Spielmann, da Rua Paraná e da Rua Nove de Julho. Não havia como passar de um lado para outro, parava tudo, era um buzinaço só, pessoas irritadas, e alguns mais impacientes arriscavam a vida passando sob os vagões. 
Os primeiros cruzamentos eram sinalizados e protegidos por porteiras de madeira. No cruzamento da Nelson Spielmann, atrás do Matarazzo, ficava uma casinha de madeira na cor cinza, onde um vigia recebia o sinal telegráfico da passagem do trem pelo Distrito de Padre Nóbrega, e fechava a porteira para bloquear o trânsito de veículos. O mesmo acontecia nos cruzamentos seguintes, ou seja, tudo dependia da ação direta do homem, nada era automatizado.
Destas observações entendemos também o traçado de outras ruas, que começam quase que paralelas e acabam se encontrando. É o caso da Avenida Sampaio Vidal, que se encontra com a Rua São Luiz, da Rua Quatro de Abril (era aberta até o final), que se encontrava com a Sampaio Vidal, da Rua Bahia, com a Rua Goiás, da Rua Independência, com Rua Sargento Ananias, e de tantas outras. 
Há também varias ocorrências de ruas “sem saída”. Fiz um trabalho de pesquisa sobre estas ruas em Marília e me surpreendi com a quantidade existente.  
De 1924 a 1930, Marília entrou no mapa da migração atraindo gente vinda do Nordeste, somando número com os imigrantes japoneses, com os sírio libaneses, com os italianos e os portugueses, sendo estes últimos, os maiores trabalhadores na lida de serraria, produzindo tábuas, vigas e palanques para erguer as primeiras moradias. Andando pelas ruas da cidade, mesmo próximo ao centro, encontramos várias casas de madeiras. 
Conta a história que com uma só arrancada derrubaram mais de 12.000 alqueires de matas e plantaram, quase de um só fôlego, mais de vinte e quatro milhões de pés de café. Tem noção do que é gente trabalhando? Isto foi pelas bandas da Fazenda Ventania, hoje, nossa querida Nova Marília, o bairro mais populoso da cidade.
Publicado no Jornal Diário de Marília, em 17/05/2015

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